As medidas de contenção do coronavírus estão exageradas? Pela própria natureza da coisa, nunca saberemos ao certo.
Se as medidas de contenção derem certo, ou seja, não enfrentarmos um crescimento vertiginoso do número de casos da doença a ponto de pressionar o sistema de saúde nacional (como está ocorrendo na Itália), não saberemos se foi por causa das medidas ou se seria assim mesmo, mesmo sem as medidas.
O inverso não é verdadeiro: se não forem adotadas medidas de contenção, saberemos com certeza se essas medidas eram necessárias ou não, a depender do resultado desta não-ação.
Tenho lido por aí que esta decisão funciona como um seguro. Em termos. No caso do seguro, se adquirido, sabemos com certeza, ao final do período segurado, se jogamos dinheiro fora ou não. Aconteceu o sinistro, o seguro valeu a pena. Não aconteceu, “perdemos” dinheiro.
Já no caso das medidas de contenção, se o sinistro não ocorrer, nunca saberemos com certeza se foram essas medidas as responsáveis pelo “não-sinistro”. Por um motivo simples: o próprio “seguro” interfere no resultado final. Trata-se de uma espécie de “seguro de Schrödinger”.
Tenho ouvido algumas pessoas defenderem que está tudo muito exagerado, porque, afinal, trata-se de uma gripe e, como tal, seria muito mais virulenta no inverno, como está acontecendo no hemisfério norte. Aqui, no país tropical abençoado por Deus, o coronavírus não teria a mínima chance.
Pode ser, faz até sentido. Se adotarmos medidas de contenção, discutiremos até o fim dos tempos se esta hipótese era verdadeira ou não. Por outro lado, se não adotarmos medidas de contenção, descobriremos, na prática, se a hipótese era verdadeira. Seria o Brasil servindo como um imenso laboratório científico. Vale o risco?