Quando reabrir?

Muitos dos que defendem a liberação já da quarentena usam como argumento o fato de que, uma vez o país reaberto, o surto volta e aí teríamos o pior de dois mundos: recessão e peste. É um bom ponto, que não tem uma resposta simples.

Está aí um artigo que endereça esse problema. China, Coreia e Japão estão mostrando como é possível lidar com o “pós-quarentena” sem precisar fechar a economia novamente. Mas é preciso ter um plano. Caso contrário, todo esse esforço terá sido em vão.

Herança maldita

Passando aqui só para lembrar: essa dinheirama que os governos estão distribuindo à mão farta é nosso. Só estamos tomando emprestado do nosso futuro.

PS.: nada contra. É só não nos iludirmos de que surgiu dinheiro assim, do nada.

Estatísticas da Covid-19

Seguem os gráficos atualizados até ontem.

A Itália parece mesmo ter atingido o seu pico, e agora está na descendente, tanto em número de casos quanto em número de mortes. Vamos acompanhar os próximos dias. Mas a Espanha aparentemente é a nova Itália, infelizmente.

O crescimento do número de mortes nos EUA está mais lento do que foi na Europa. Talvez porque estejam fazendo mais testes e tendo mais eficácia no combate. Só uma hipótese.

A curva de novos casos no Brasil passou para baixo dos EUA e Europa. Não comemoraria muito, por dois motivos: 1) nossa população é metade da população de EUA e Europa e, portanto, deveríamos ter menos casos mesmo e 2) devemos ter uma grande subnotificação, certamente maior que nos EUA por exemplo. Vamos passar a acompanhar mais de perto o número de mortes, pois trata-se de uma dado mais confiável, ainda que mais defasado em relação ao ciclo da epidemia. Observe que o Brasil hoje tem o mesmo número de mortes que a Europa (no caso, só a Itália, pois o país começou antes) na mesma época. Vamos continuar acompanhando.

Brasil vs. Austrália

Li hoje uma notinha no jornal, dizendo que o entorno do presidente está se baseando no baixo número de mortes na Austrália para fazer um paralelo com o Brasil, uma vez que os climas são semelhantes. Fui verificar. Os gráficos estão aí.

De fato, o número de mortes na Austrália é bem baixo (o gráfico mostra a média dos 3 dias anteriores). A má notícia é que a nossa curva está bem mais inclinada: já temos uma média de 9 mortes nos últimos 3 dias, curva esta mais compatível com a Itália na mesma época. No 8o dia após a primeira morte, a média da Itália era de 10 mortes/dia.

O número de casos/dia segue semelhante. Mas lembremos que a população da Austrália é cerca de 8,5 vezes menor que a brasileira. Ou seja, estão testando muito mais lá, o que faz crescer o número de casos registrados. E o que provavelmente explica o menor número de mortes também, pois o combate é bem mais eficaz. Além, claro, do sistema de saúde melhor.

Skin in the game

Bolsonaro fez um discurso de confrontamento. Confronto é o que menos precisamos no momento.

O presidente tem a caneta na mão. Digamos que ele esteja certo. Por que então não chama a responsabilidade e baixa uma MP proibindo o fechamento compulsório de escolas e comércio em todo território nacional? Aqui não é os EUA, onde os Estados têm quase total autonomia. No Brasil, o presidente tem poder sobre todo o país. Por que fica só no discurso?

Mandetta criticou o fechamento indiscriminado do comércio e meios de transporte. Disse que essas coisas podem atrapalhar o próprio sistema de saúde, e que é preciso ter uma certa coordenação. Sim. E quem está coordenando? O governo federal vai ficar só na crítica ou vai assumir a coordenação da bagaça?

Os problemas no sistema de saúde recaem sobre governadores e prefeitos. A União controla apenas uma parcela pequena dos hospitais. São governadores e prefeitos que estão com o skin in the game. Talvez por isso estejam mais cautelosos que o presidente.

Senhor presidente: saia do discurso e venha para a prática. Proíba o fechamento de escolas e comércio. E chame as consequências para si.

Decisões

O problema de qualquer processo decisório é que não sabemos com certeza o resultado de nossas decisões. Isso é o óbvio, mas às vezes não custa lembrar, principalmente nesses tempos de decisões que valem a vida de milhões de pessoas.

Temos, como humanidade, uma escolha pela frente: deixar morrer milhões de pessoas sem atendimento hospitalar, ou deixar que a atividade econômica colapse, provocando o caos social?

Em primeiro lugar, a própria formulação do problema já é em si um encaminhamento da solução. É diferente dizer que irão morrer milhares ou milhões de pessoas. Assim como é diferente dizer que entraremos em uma recessão econômica ou em uma depressão que nos jogará de volta à idade da pedra. Os que defendem um ou o outro lado formularão o problema de forma a não deixar dúvida sobre a solução a ser adotada. Afinal, quem, em sã consciência, deixará morrer milhões de pessoas? Ou quem quer viver em uma sociedade que se desmancha, sem lei e sem ordem?

O problema é que tanto um cenário quanto o outro são incertos. Talvez não morram milhões de pessoas. Com algum cuidado, talvez morram milhares com os devidos cuidados médicos, o que estará dentro do que se espera de uma pandemia. Talvez não entremos em uma era de convulsões sociais. Com a dose certa de incentivos e uma rede de solidariedade, talvez enfrentemos apenas mais uma recessão, aliás muito mais leve do que a que tivemos nos anos Dilma.

Cuidado, portanto. Não deixe que a formulação do problema influencie a sua decisão. A formulação traz em si uma hipótese a ser provada. Aceitar a formulação como uma verdade absoluta pode levar a decisões falhas.

E o que fazer, então? Hoje, eu sinceramente não sei. Mas intuo que a solução se auto-imporá dentro de pouco tempo, quando as verdadeiras consequências, e não suposições, começarem a aparecer. Se as condições de quarentena forem abrandadas e o número de mortes subir de maneira exponencial, será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. Por outro lado, se as condições de quarentena se estenderem no tempo e sinais de comoção social começarem a surgir, também será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. No final do dia, será a opinião pública a tomar a decisão, os governantes serão apenas os executores.

Estatísticas da Covid-19

Gráficos atualizados até ontem. Itália continua estabilizando pelo 2o dia seguido, mas a explosão de novos casos na Espanha e França fizeram os números da Europa voltarem a subir.

Os números dos EUA explodem também, mas lá pode ser pelo fato da testagem estar sendo feita de forma extensiva. Sinal disso é o número de fatalidades, desproporcionalmente pequeno em relação ao total de casos (1,3%), como Coreia (1,2%) e Alemanha (0,4%).No Brasil, o número de novos casos seguem o padrão de Europa e EUA, sem muita novidade.

Adicionei mais dois gráficos, com a evolução do número de fatalidades, desde o dia em que ocorreu a primeira para cada país. No caso da Europa, desde o dia em que ocorreu o primeiro caso na Itália. Se o número de novos casos depende de quanto cada país está testando para a doença, no caso do número de fatalidades não há muita discussão sobre a robustez da estatística. E será útil para comparar a efetividade no combate à epidemia em cada região.

Estatísticas da Covid-19

Aparentemente, algo se move.

O número de novos casos diários se estabilizou na Europa como um todo, e na Itália, Alemanha, Espanha e França.

É apenas um ponto, vamos ver como se comporta nos próximos dias.

Enquanto isso, os casos crescem de maneira assustadora nos EUA. Não sei se começaram a fazer testes extensivos, não li nada sobre isso.

E no Brasil, a curva continua seguindo a trajetória de Europa e EUA.

Outro patamar

Depois do 11/09, os procedimentos de segurança nas viagens aéreas e em outras áreas nos EUA foram a outro patamar.

Só tente imaginar o que vai acontecer com as viagens entre países e com os procedimentos de higiene adotados globalmente depois dessa crise.