Talk is cheap

Ainda não vi nenhuma montadora reduzindo o preço dos seus veículos, vendendo com prejuízo, em “solidariedade” aos seus clientes. Talk is cheap, dizem os americanos.

Existe uma forma muito simples de solucionar esse problema: basta que o governo assuma o risco do calote. Os bancos, assim, serviriam apenas como meros conduítes dos empréstimos às empresas, podendo cobrar taxas sem o spread para compensar o risco do calote.

Mas daí, adivinha, os calotes seriam pagos por todos nós, em forma de mais dívida do governo e maior carga tributária. Nada contra, em momentos de emergência é preciso fazer isso mesmo. Mas exigir que os bancos assumam esse risco não parece ser o mais prudente.

Fora, Mandetta!

Descobri que está rolando nas redes sociais bolsonaristas a hashtag #foramandetta.

Quer dizer, Bolsonaro não tem coragem de mandar seu ministro da saúde passear, então fica criticando-o a céu aberto, enquanto as redes sociais amigas fazem o serviço de assá-lo em fogo alto.

Não seria mais fácil demiti-lo?

Não, não seria mais fácil. E vou explicar porque.

Mandetta, seguindo o exemplo de praticamente todos os países relevantes do mundo, vem patrocinando o isolamento social como medida de contenção da pandemia. Só faz sentido trocar o ministro se, em seu lugar, entrar alguém que faça o oposto. Mas isso significaria assumir a responsabilidade por essa política arriscada, que pode até dar certo, mas pode dar muito, mas muito errado.

Portanto, muito mais conveniente dizer que não concorda, mas esconder-se atrás de um ministro que não o “obedece”. Assim, Bolsonaro pretende ficar com os dois bônus: o do achatamento da curva de transmissão e o de ter “avisado” sobre os efeitos deletérios da política de contenção.

Muito esperto. Mas, como dizia Tancredo Neves, esperteza, quando é muita, come o dono.

O experimento sueco

Muito se tem falado do “experimento sueco” na contenção da epidemia. Parece que a Suécia adotou medidas bem mais suaves, não fechando escolas nem comércio. Segundo matéria do The Guardian de hoje, dica de Flavio Soares de Barros), parece que o governo está revendo seus conceitos. Os gráficos abaixo explicam porque.

O número de mortes na Suécia (por habitante), é bem menor que Espanha e Itália, e compatível com Reino Unido e França. Mas, recentemente tem se mostrado bem superior a países com que a Suécia se compara, como Alemanha e os outros países nórdicos (Noruega, Dinamarca e Suécia). São ainda poucos pontos, mas para uma doença que cresce exponencialmente, cada dia é um ano. E os suecos sabem disso.

Estatísticas da Covid-19

Trago 4 gráficos, dois que estão sendo atualizados diariamente e dois novos.

Os gráficos velhos mostram a curva brasileira bem atrás no número de casos em relação a Europa e EUA, mas pode haver problema de subnotificação. No caso do número de mortes, nossa curva também está atrás, mas segue de perto a tendência da Europa como um todo.

Os gráficos novos se referem a duas tragédias: Lombardia e Nova York (o Estado). Ambas as regiões têm sido consideradas os piores desastres de saúde pública nesta pandemia. Comparei os dados dessas duas regiões com o Estado de SP, a nossa pior região. Ficamos bem atrás, tanto em número de casos quanto em número de mortes, tudo ajustado pelo tamanho das respectivas populações. Ou seja, aparentemente estamos bem distantes (por enquanto, pelo menos) daquelas cenas dantescas que observamos nessas regiões.

De maneira geral, parece que caminhamos bem. Mas é preciso cuidado para não baixar a guarda sem um bom planejamento. Seguimos.

Testes vs Casos

O site Worldmeter (minha fonte de dados) disponibilizou o número de testes por país. Com esses dados, fiz um gráfico mostrando a relação entre o número de testes e o número de casos confirmados (tudo em relação à população de cada país). Plotei todos os países com mais de 1.000 casos.

A reta é a média, que dá mais ou menos 10%. Ou seja, de cada 10 testes, 1 dá positivo. Isso, na média desses países.

Mas há diferenças grandes! Na Espanha, por exemplo, a razão é de 35%, ou seja, de cada 10 testes, 3,5 deram positivo até o momento. Por outro lado, na Noruega, a razão é de apenas 5%. Na Austrália e na Coréia é de 2%, enquanto na Itália é de 19% e nos EUA de 20%.Uma explicação possível é que os números são mais altos nos países que demoraram mais a tomar medidas de contenção. Isso deve acontecer simplesmente porque tem mais pessoas contaminadas na população. Outra explicação seria que os países com maiores percentuais são aqueles que estão testando somente os doentes, enquanto aqueles com percentuais baixos estão testando todo mundo. Talvez, inclusive, uma coisa esteja relacionada com a outra.

O Brasil é aquele pontinho vermelho no canto inferior esquerdo. Temos poucos testes e poucos casos ainda. A relação é de 17%, quase igual à Itália. Ou seja, ou demoramos para fazer medidas de contenção, ou estamos testando somente os doentes. De qualquer forma, ainda é um número muito pequeno para tirar conclusões.

Estatísticas da Covid-19

Gráficos atualizados até ontem.

Mudei um pouco o critério para o gráfico do número de novos casos: ao invés de iniciar com o caso #50, iniciei quando o número de casos ultrapassou 1 para cada milhão de habitantes em cada país/região. Neste gráfico, o Brasil continua bem atrás de Europa e EUA, mas aqui pode haver problemas de medida, uma vez que estamos testando bem menos.

No gráfico de mortes, adotei dois critérios para iniciar as séries: o critério da primeira morte, que já vinha usando, e o critério do caso #150, sugerido pelo amigo Victor H M Loyola. O racional desse critério é que já teríamos, no caso #150, contaminação comunitária, o que já indicaria epidemia. A primeira morte seria um marco mais aleatório. Faz sentido.

No primeiro gráfico, usando o critério da primeira morte, o Brasil aparece seguindo a Europa em seu início. Já no segundo critério (caso #150), o Brasil aparece bem atrás, com uma curva mais suave. Tomara que este critério seja o melhor mesmo, Victor!

Uma história mal contada

Assim como o autor do artigo (Mandetta x Prevent Senior – o que há por trás dessa história?), minha mãe e minha sogra têm cobertura pela Prevent Senior. Meu pai também tinha, até o seu falecimento. Todos sempre foram muito bem atendidos.

Por isso, assim como o autor, também achei esquisito esse ataque à Prevent Senior por parte do ministro da saúde. Sem dúvida, é preciso observar se os protocolos estão sendo cumpridos e, se não, precisam ser retificados. Isso é uma coisa. Outra é falar em intervenção, como se o hospital fosse uma espelunca. Não é, posso garantir.

Seria realmente uma pena que uma empresa como a Prevent Senior fosse destruída por um lobby, usando o coronavírus como desculpa. Muitos idosos voltariam a ficar à mercê dos planos de saúde que não mais os aceitam.

A esperança nunca morre

O problema não é a quarentena em si. O problema é a incerteza.

Se alguém pudesse dizer com certeza “olha, vamos ter que ficar 3 meses em quarentena, mas depois desse prazo uma vacina milagrosa reduzirá a zero a chance de novos contágios”, estou certo de que a mudança de humor seria generalizada. As pessoas e os mercados (que nada mais são do que a expressão financeira das pessoas) comemorariam, tendo muito mais ânimo para aguentar o tranco.

Pois acredite nisso. Há uma rede nunca vista de cientistas trabalhando para encontrar a tal “vacina milagrosa”. É difícil que seja daqui a 3 meses, mas é questão de “quando”, não de “se”. Enquanto isso, é importante procurar “achatar” a curva de contaminação, para que o sistema de saúde dê conta, como estão fazendo todos os países do mundo. O importante é ter fé de que isso terá um fim.