Plotei um gráfico com o número de óbitos por milhão (média móvel de 3 dias) do Brasil, Europa e EUA. Acho que é a comparação mais adequada, dado que são três “continentes”, com populações muito grandes e desiguais, tanto de ponto de vista de renda quanto de distribuição geográfica. Acho melhor do que comparar com países menores e mais homogêneos.
O gráfico mostra a evolução do número de óbitos nos EUA e Europa como uma tendência quase ininterrupta de subida, fazendo um pico intermediário (ponto 1) antes de fazer o pico definitivo (ponto 2). Este comportamento se deu pelo reconhecimento de óbitos não contabilizados na França (no caso da Europa) e em NY (no caso dos EUA). O pico dos casos (ponto 2) se deu no dia 49 na Europa e no dia 44 nos EUA, sempre contados após o caso #150.Após o pico, tanto no caso da Europa quanto dos EUA, o número de óbitos começou uma lenta descida, com vários altos e baixos. Ou seja, ao contrário da subida, que foi quase em um fôlego só, a descida se dá em ondas. No caso dos EUA, nem sequer estamos certos de que de fato o número está caindo.
Gastei um pouco de tempo descrevendo as curvas de Europa e EUA porque normalmente nos apegamos a certos parâmetros para prever como será a nossa própria curva. No entanto, a curva do Brasil tem características distintas.
A primeira e mais saliente é o número em si de óbitos, muito menor aqui do que lá fora. A nossa “subida” foi muito mais lenta. Isso é bom. Mas é preciso ponderar que 1) a nossa testagem tem sido bem mais problemática, o que pode estar mascarando parcialmente esse número e 2) a nossa capacidade de tratar os doentes é mais limitada, então números menores precisam ser ponderados pela capacidade de tratamento.
Uma segunda característica é o “formato” da subida. Ao invés de subir “de um fôlego só”, a curva brasileira sobe em ondas. Já fizemos 4 picos até o momento, e nada garante que não façamos outros até chegar no pico dos picos. Ou seja, o uso das curvas lá de fora como uma proxy do que vai acontecer aqui tem limitações.
Vamos assumir que este ponto 4 seja o maior pico. Ele coincide com o pico 2 da Europa. Se for isso, e seguir o mesmo desenho da Europa, atingiríamos metade dos óbitos diários daqui a 22 dias. Só para colocar números, o pico foi anteontem, quando a média móvel de 3 dias foi de 453 óbitos.
Mas nada garante que este seja o “pico dos picos”. Como eu disse, não estamos seguindo o padrão Europa/EUA. Então, pode ser qualquer coisa. Pode ser que atinjamos o pico daqui a duas semanas ou dois meses. Ninguém realmente sabe.
Coloquei também o gráfico do Estado de SP contra NY e Lombardia. Podemos observar que SP não parece estar seguindo o padrão brasileiro: houve um pico duplo, a curva não está ascendente. O que pode estar mostrando algum controle no Estado e aumento maior de óbitos proporcionalmente em outros Estados do país. Mas ainda é cedo para dizer, precisaria engatar uma tendência descendente.
Por fim, deixo aqui só um número para meditação: o número de casos novos por milhão no Brasil já está igual à Europa hoje (30). O pico na Europa foi 60, então estamos na metade do pico da Europa em número de casos/dia. Mas, como eu disse, testamos bem menos, então esta comparação pode não ser acurada.