“Jovem com problemas mentais, pedreiro sem antecedentes criminais, usando uma arma de brinquedo”. Note a quantidade de palavras usadas para caracterizar pureza. Assim o jornalista descreve o sequestrador do ônibus na ponte Rio-Niterói, em um perfil sobre o governador afastado do Rio feito para demonizar a agenda de confronto adotada pela polícia do Rio.
Não vou entrar aqui no mérito da adequação ou não dessa política de confronto. Não tenho opinião formada sobre isso. Meu ponto é só a maneira idiota (não consegui pensar em outro adjetivo) para defender o ponto de vista contrário.
Havia uma situação de risco para os passageiros do ônibus, as negociações se mostraram infrutíferas, a polícia agiu conforme o protocolo para salvar as vidas de inocentes. Caracterizar essa ação como o assassinato de um inocente é uma ofensa à inteligência alheia. Por isso, idiota.
A polícia tomou o risco de matar um inocente? Sem dúvida. Mas o risco inverso também existia: se escolhesse não matar o sequestrador, outros inocentes poderiam morrer. Afinal, a polícia não sabia que se tratava de um “jovem com problemas mentais, pedreiro sem antecedentes criminais, usando uma arma de brinquedo”. No cálculo de riscos, parece-me que a polícia tomou a decisão correta, nesse caso específico. Acho que o jornalista concordaria comigo se tivesse um parente naquele ônibus.
Esse tipo de abordagem adotada pelo jornalista causa o efeito justo oposto: ao tratar as pessoas como idiotas, o efeito é aumentar o apoio a medidas extremas. Certamente há formas mais inteligentes de ganhar apoio para a “causa da não-violência”.
Sou do tempo em que Maradona fez o gol de mão contra a Inglaterra. La mano de Dios. Um erro claro da arbitragem. Mas claro no replay. Na hora, o gênio fez com que todos acreditassem que um jogador de 1,65m ganhou de cabeça de um goleiro muito mais alto que saiu com as mãos. Se houvesse o VAR, teríamos sido privados de um momento histórico, épico, comentado até hoje, mais de 30 anos depois.
Quando lançaram o VAR, critiquei aqui. Hoje foi apenas mais um dia em que aprofundei na convicção de que o VAR não tem nada a ver com futebol.
Futebol é a vida, com seus erros e acertos, com a sua não linearidade, poucos momentos apoteóticos cercado de mesmice por todos os lados. Futebol só é o esporte mais popular do mundo porque é assim. O VAR torna o esporte mais parecido com outras coisas em que a tecnologia tem um papel fundamental na decisão de quem é o vencedor. Natação ou atletismo, por exemplo.
Ninguém gosta de ser vítima de um erro do árbitro, claro. O VAR veio acabar com essas supostas injustiças. Mas o que se viu hoje na Vila Belmiro foi justamente o oposto: o VAR cometeu injustiça, mesmo cumprindo a letra fria da regra.
Nos dois lances, o impedimento era impossível de ser visto a olho nu. Foi um centímetro, se muito. É muito difícil defender que este “adiantamento” tenha sido decisivo para que o gol tivesse sido marcado. Se o jogador estivesse um centímetro para trás, provavelmente o desfecho teria sido o mesmo.
O que eu quero dizer é que lances impossíveis de serem detectados pelo juiz em campo (com a possível exceção a atitudes anti-desportivas) deveriam fazer parte daquilo que chamamos, na vida, de “erro normal”. Nos tempos em que não existia o VAR, esses dois lances seriam revisados pelos comentaristas, haveria muita discussão sobre se havia ou não impedimento, mas a conclusão seria unânime: impossível o bandeirinha perceber.
Antes de dizerem que o choro é livre, estaria escrevendo a mesma coisa se o erro do VAR fosse a favor do meu time. Sim, erro do VAR. Não se anula um gol quando são necessários 5 minutos para se concluir que havia impedimento. Se a máquina demora essa eternidade, então é porque tem algo muito errado nisso tudo.
Enfim, acho a tecnologia interessante quando avisa o juiz quando a bola ultrapassou a linha, ou que houve uma atitude anti-desportiva. Mas o que se viu hoje foi a letra vencer o espírito, a regra vencer a alma do jogo. Não, me desculpem, isso é tudo, menos futebol.
Até o momento não tinha formado uma opinião sobre a tal nota de R$200. Desde o início, a iniciativa me pareceu um pouco esquisita, em um país: 1) com trauma inflacionário, onde a impressão de notas mais altas sempre foi identificada com a desvalorização da moeda, 2) pobre, onde grande parte da população não vê com frequência quantias múltiplas de R$200 e 3) onde se guardam grandes quantias de dinheiro em malas dentro de apartamentos, ou em valises carregadas às pressas de dentro de pizzarias, ou ainda sacadas do caixa de lojas de chocolate.
Mas a justificativa parecia fazer sentido: o auxílio emergencial havia injetado bilhões de reais na economia, e os beneficiários precisavam sacar o dinheiro. Assim, estavam faltando notas, e é mais barato imprimir R$200 do que R$ 100.
Gustavo Franco desmonta a tese toda neste artigo.
Em primeiro lugar, faz um apanhado geral das práticas internacionais. E, para aqueles que comparam os R$100 (a nossa maior nota) com os US$ 100 (a maior nota americana), ele responde com a comparação entre as rendas per capita. Sim, os nossos R$100, para fins práticos, são equivalentes aos US$ 100 dos EUA. E lá, estão discutindo a eliminação dessa nota, justamente para dificultar o crime. Tente você usar uma nota de US$ 100 no dia a dia nos EUA. É muito difícil. Aqui, o uso dos R$100 também é difícil (já foi mais), imagine usar a nota de R$200.
Neste ponto, Franco faz uma comparação certeira: o que é mais difícil, usar os R$200 em dinheiro vivo ou dentro de um aplicativo do celular? Ah, mas o povo não tem celular. Bem, esse povo que não tem dinheiro nem para comprar um celular vai ter a mesma dificuldade de usar os R$200 no comércio.
Pra surpresa de ninguém, estamos indo na contramão do mundo. Enquanto se eliminam cédulas maiores para dificultar a vida do crime e se estimulam os meios de pagamento eletrônicos, aqui vamos produzir uma nota de maior valor. O lobo-guará está em extinção, mas deve haver meios mais inteligentes de mantê-lo circulando por aí.
45% da população está recebendo algum auxílio do Estado. Quarenta e cinco por cento!
É muito? É muito.
Mas, e se eu te disser que é muito mais que isso? É muito mais que isso.
Nesses 45% não estão computados todos os aposentados que recebem de um INSS quebrado, que precisa de dinheiro do governo para pagar as aposentadorias.
Nesses 45% não estão computados os empregos mantidos por empresas que sobrevivem somente porque recebem subsídios do governo, como as da Zona Franca de Manaus.
Nesses 45% não estão computados todas as famílias que têm filhos estudando em universidades públicas.
Nesses 45% não estão computados todos os que se beneficiam de deduções no imposto de renda.
Nesses 45% não estão computados todos os que, de alguma maneira, recebem subsídios do governo para exercerem suas atividades profissionais, como os PJs que na verdade são PFs e as empresas do Simples.
Nesses 45% não estão computados todos os funcionários do Estado, ativos e inativos, que são legião.
Etc.
Enfim, será difícil encontrar alguém nesse Brasilzão que não tenha algum auxílio vindo do Estado. O Bolsa Família atual custa R$34 bilhões/ano, e consta que o novo Renda Brasil vai custar algo próximo de R$50 bilhões. Isso em um orçamento de R$3.250 bilhões. Os outros R$3,2 trilhões vão para todos os brasileiros, os que recebem Bolsa Família e também os que não recebem. Qual a fatia de um e de outro? Talvez uma reforma do Estado que visasse a diminuição da desigualdade devesse começar por essa pergunta.
O PSTU defende a reestatização da Embraer “como única saída para a sobrevivência da empresa”. Que o PSTU (e todos os seus irmãos de armas, PSOL, PCdoB, etc) defendem a estatização de todas as empresas não é novidade. O interessante, no caso, é o reconhecimento de que a empresa não tem como sobreviver a não ser tendo o Estado como acionista majoritário.
Hoje, isso é uma verdade. A união com a Boeing, que seria a forma mais eficiente de manter a competitividade da empresa em jatos de médio porte ao longo dos próximos anos, fez água. A pandemia selou o caixão. A Embraer que sobra é muito menor que a empresa de antes. Daí o PDV.
Debaixo do Estado, no entanto, a coisa muda. Todos os sonhos são possíveis. Inclusive porque a capitalização de estatais não está submetida ao teto de gastos. No ano passado, Bolsonaro capitalizou a Engeprom para fabricar os brinquedinhos da Marinha. Por que não capitalizar a Embraer para fabricar os brinquedinhos da Aeronáutica?
O que fica claro nessa história é que PSTU e seus irmãos querem que o Estado brasileiro subsidie empregos altamente qualificados com os impostos pagos pelos desdentados. De maneira geral, esses partidos defendem os empregados do Estado com unhas e dentes, empregados estes que recebem muito acima da média de renda do “povo” que veementemente dizem defender.
Esses partidos gostam não do povo, mas da máquina do Estado.
Destaco editorial do Estadão e duas notícias no mesmo jornal na página seguinte.
No editorial, o jornal pede candidamente que a oposição “se apresente”. Selecionei apenas o primeiro e o último parágrafos, que resumem a ideia. A angústia do editorialista é que, por mais que Bolsonaro não preencha o figurino do líder de que a nação precisa, não surge uma alternativa viável na oposição.
O diagnóstico do editorial está correto: é preciso um líder que “dialogue de verdade com a população”. Pois é. Para haver algum diálogo, é necessário que o interlocutor esteja disposto a ouvir. Não parece ser o caso da oposição a Bolsonaro.
Articular uma mensagem minimamente inteligível supõe não brigar com a realidade. Aqueles que poderiam ser a tal “oposição que se apresenta” fazem vista grossa para articulações no Congresso para burlar a Constituição (no caso da reeleição para as presidências das casas) e para a cada vez mais próxima suspeição de Moro no condenação de Lula.
Peguei esses dois casos particulares porque são notícia hoje, mas poderia fazer uma capivara muito mais longa com fatos que se acumulam e que justificam a eleição de Bolsonaro. Podemos dizer que as “instituições brasileiras” se esforçam para se auto dinamitarem. Bolsonaro é apenas o cara que dá risada quando tudo explode.
Concordo com o editorial do Estadão: a oposição precisa encontrar um discurso. Desde que esse discurso não colida com a realidade.
O Brazil Journal postou um texto que teve grande repercussão nos EUA (NYC is dead forever. Here is why). O autor defende a tese de que a cidade de Nova York está morta para sempre.
Trata-se de um texto bem longo, em que o autor analisa várias dimensões do fenômeno do abandono da cidade, por parte de seus moradores, para outros lugares do país. O vetor que proporciona esta oportunidade de mudança é a banda larga de internet.
Segundo o autor, as pessoas não precisam mais morar em grandes cidades para terem grandes oportunidades. Você, vivendo em uma cidade pequena, sem as dores de cabeça da grande metrópole e com um custo de vida muito mais baixo, pode hoje ter as mesmas oportunidades. Pode trabalhar em uma grande empresa, ter acesso a grandes universidades, fazer grandes negócios, tudo isso sentado na varanda de sua casa no meio do nowhere. O social distancing teria levado as pessoas a descobrirem que podem viver muito bem sem contato humano, pelo menos no que se refere a negócios.
Vou aqui colocar a minha opinião, certamente influenciada pela visão de minha geração. Talvez os mais jovens tenham uma visão diferente. E o mundo, afinal, será deles.
Minha opinião tem origem em duas experiências bem concretas. A primeira é o home office e a segunda é a aula remota.
Trabalho em uma empresa de médio porte. Estamos todos em home office desde março. É horroroso. Quer dizer, no início foi até interessante: não perder tempo no trânsito, não ter a sua atenção desviada por papos paralelos, minha produtividade até subiu. Mas, com o tempo, quatro coisas foram ficando claras:
1) A interação presencial com os colegas é fundamental. Sentar ao lado de um colega para discutir uma ideia ou tratar de um problema é insubstituível. Claro, você sempre pode resolver as coisas por telefone, mas não é a mesma coisa. A sensação é que se está em uma camisa de força, não se tem a mesma agilidade. Discutir uma planilha pelo telefone é um inferno, não funciona direito. Além disso, o ambiente de camaradagem vai se perdendo aos poucos, ficamos cada um em sua própria ilha particular. Isso é tudo, menos uma empresa.
2) A interação remota com clientes pode até funcionar, mas nada substitui uma reunião presencial. O body language faz mais de 50% da comunicação. Estar em contato com clientes remotamente serve como um substituto pobre para o verdadeiro relacionamento.
3) A formação dos mais novos perde muito com a falta de contato. Muito da cultura de uma empresa é adquirido no contato do dia-a-dia, nos almoços, na copa. Ficar em casa realizando tarefas não é exatamente o que vai formar um novo profissional. Há pessoas que foram contratadas que não conheço pessoalmente. Muito triste isso.
4) Trabalhar no mesmo lugar em que você dorme não é exatamente algo que chamo de saudável. No início tudo bem, mas depois aquilo vai embotando a sua mente. Se esta fosse uma situação permanente, eu já estaria procurando um escritório para alugar.
Com relação à minha segunda experiência, dou aulas em um curso preparatório para um teste no mercado financeiro. Neste mês comecei a dar aula remota. Horrível. A interação pessoal é praticamente nula, parece que você está falando com ninguém. Alguns alunos até interagem, mas é muito, mas muito diferente da aula presencial. Até um aluno dormindo em aula é mais interativo do que aula remota. Sem condições. O home office é até uma experiência que pode ser adotada parcialmente. O ensino à distância nem isso.
Bem, tudo isso para dizer que acho que o autor do artigo dizendo que Nova York morreu está errado. O ser humano é um animal gregário. A banda pode ser larga até o ponto de colocar um holograma perfeito na nossa frente. Nada vai substituir o contato humano. Nunca.
Os seres humanos vivem em cidades não porque não possam fazer as mesmas coisas à distância. Os seres humanos vivem em cidades porque precisamos uns dos outros por perto. Nos odiamos mas não podemos viver uns sem os outros. Por isso Nova York e São Paulo vão continuar aí, com suas mazelas e suas promessas. Porque assim é o ser humano.
“Profissionais que trabalham com economia” publicaram um manifesto pelo fim do teto de gastos. Ainda bem que não são “economistas”! Aliás, já disse aqui que economia é a ciência que procura descrever sistemas em que os recursos são escassos. Em um mundo onde os recursos são infinitos, pois criados sem limites pelo Estado, os economistas são profissionais dispensáveis. Restam os “profissionais que trabalham com economia”, que são basicamente aqueles que contam histórias para justificar o fracasso de suas teorias.
Tive a paciência de ler o manifesto, apesar de já saber o que iria encontrar. Além da desonestidade intelectual de sempre, há um desconhecimento brutal de como funciona a realidade do mundo real.
A desonestidade vem de narrativas como a de que a retomada pífia do crescimento econômico a partir de 2017 se deveu à aprovação do teto de gastos no ano anterior. Ora, o teto de gastos não será um limitador de gastos até 2021 ou 2022! Ou seja, o governo continuou gastando normalmente (entre gastos discricionários e não discricionários) como se o teto não existisse, com exceção desse ano de 2020, quando foram aprovados gastos discricionários para combater os efeitos da pandemia. Ou seja, não houve limitador algum! O crescimento foi pífio por outros motivos, não pelo teto. Há outras desonestidades no “manifesto”, mas vamos ao cerne da questão.
Os “profissionais que trabalham com economia” apontam corretamente o problema básico que o teto de gastos veio endereçar: a trajetória explosiva da dívida pública. Achei isso digno de nota, porque normalmente nesses “manifestos” esse problema não é abordado. Gasta-se muita tinta falando-se de “direitos” e “incentivos ao crescimento”, como se essas necessidades, por si só, tivessem o condão de criar dinheiro do nada.
Mas, ao citar o problema, os “profissionais que trabalham com economia” tiveram que propor uma solução. E a solução foi… negar a existência do problema!
Segundo os manifestantes, os países desenvolvidos estão agora mesmo empilhando incentivos fiscais sem se preocuparem com a dívida. Cita Espanha e Itália, que sequer podem imprimir a própria moeda, fazendo a mesma coisa. E nós, que imprimimos o poderoso Real, porque não podemos fazer o mesmo???
Sinto-me até constrangido em explicar coisa tão básica. Sou engenheiro e, portanto, não sou sequer um “profissional que trabalha com economia”, quanto mais um economista. Mas não precisa ser um especialista da área para distinguir países desenvolvidos de países subdesenvolvidos.
Uma pequena digressão. Para financiar a guerra da independência, a União norte-americana emitiu títulos de dívida, comprados pela elite econômica das colônias. Obviamente, depois da guerra, a União não tinha como pagar aquela dívida, e então os seus detentores venderam seus títulos a preço de banana para especuladores, que tinham alguma esperança de receber algum dinheiro por aquilo. Deu-se então um embate dentro do governo: de um lado, Jefferson defendia o calote, pois esses especuladores não tinham o direito de receber 100% da dívida, na medida em que aufeririam um lucro injusto. Do outro lado estava Hamilton, o pai do sistema financeiro norte-americano, que defendia que dívida é dívida, e precisa ser paga para, assim, se manter a credibilidade do devedor. Hamilton venceu a batalha, e os títulos foram pagos a valor de face.
Conto essa história para mostrar que os EUA têm mais de 200 anos de credibilidade acumulada. É considerado um país sério, que cumpre seus compromissos. Todos confiam no papel pintado que o governo afirma ter valor, o dólar. Mesmo com tudo isso, há uma crescente desconfiança no mercado sobre a sustentabilidade da dívida americana.
Vamos ao caso de Espanha e Itália. Ambas emitem dívida em euros. O país que está verdadeiramente por trás do euro é a Alemanha, outro país absolutamente confiável. Há não muito tempo, a Grécia (que também emite dívida em euros) preferiu fazer um ajuste fiscal draconiano a abandonar o euro. Por que fizeram isso? Porque sabem que com o dracma sua população iria empobrecer ainda mais, pois a moeda seria rapidamente comida pela inflação. Espanha e Itália também sabem disso e, portanto, mantém suas contas fiscais mais ou menos em ordem. A grande dívida que têm só é possível PORQUE emitem em euro, não APESAR DE emitirem em euro, como afirmado no manifesto.
E o Brasil? Bem, nosotros somos um pobre rapaz latino-americano sem dinheiro no banco. Temos histórico de calote de dívida em várias dimensões: calote mesmo (em 1987 decretamos moratória da dívida externa), confisco (Collor em 1990) e hiperinflação da década de 80, que é a forma mais perversa de dar calote na dívida. Estamos vivendo um período inédito, em que nossa moeda não perde muito valor com o tempo, mas trata-se de uma exceção em nossa história, não uma regra. Essa conquista só foi possível porque mantivemos algum grau de disciplina fiscal nos últimos 25 anos. A mesma disciplina vilanizada pelos “profissionais que trabalham com economia”.
Este “profissionais” sugerem que, pelo fato de os financiadores da dívida serem , em sua grande maioria, brasileiros, não haveria problema de financiamento, pois não haveria para onde fugirem. Chegam ao extremo de sugerir que, se houvesse uma “fuga de capitais” para o exterior, o Banco Central teria instrumentos para lidar com o problema. Claro, fechando as fronteiras para o livre fluxo de capitais, o que nos tornaria no momento imediatamente posterior, um pária internacional sem acesso à poupança externa. Como geramos déficit em conta corrente, não teríamos com quem nos financiar, gerando uma desvalorização brutal da moeda e inflação. Já vimos esse filme muitas vezes.
O que esses “profissionais que trabalham com economia” estão sugerindo é uma volta a um passado de irresponsabilidade. Queremos caminhar para frente, não para trás. Corremos sério risco de jogar 25 anos de estabilidade monetária pela janela. Espero sinceramente que os verdadeiros economistas, aqueles que trabalham com escassez de recursos, façam ouvir a sua voz.