Édson Arantes do Nascimento faz 80 anos amanhã. Parabéns.
Mas Pelé, não.
Pelé tem a idade que cada um lhe dá, de acordo com o seu exclusivo critério. Para mim, Pelé nasceu às 16:15 hs do dia 29/06/1958, horário de Estocolmo. Neste dia, neste exato momento, Pelé dá um chapéu no zagueiro dentro da área e, sem deixar a bola cair no chão, arremata para o que seria o 3o gol da seleção brasileira na final da Copa do Mundo contra a Suécia. Este gol fez nascer Pelé para o mundo, na minha humilde opinião.
É ocioso ficar discutindo quem foi o maior jogador de todos os tempos. Há gosto para tudo. Pelé não tinha a plasticidade de um Maradona, ou a visão de jogo de um Beckenbauer, ou o calcanhar mágico de um Sócrates. Mas Pelé é imbatível em um quesito: resultados.
Pelé tinha um jogo absolutamente objetivo. Nenhum toque de bola, nenhum movimento é supérfluo. Tudo é feito para o gol. Pelé era um predador do gol. Não importa se o gol era feio ou bonito, pensado ou sem querer. O que importava era que acontecesse. O gol citado acima foi uma pintura. Mas, observando o lance, fica claro que não tinha maneira melhor de concluir o lance. Era a forma mais econômica, clean. Foi um gol de Pelé.
Dizem que Pelé só tem 1.258 gols porque jogou no futebol brasileiro. Fosse na Europa, a história teria sido outra. Há duas falhas nesse raciocínio. A primeira é que, naquela época, os melhores jogadores ficavam no Brasil, não iam para a Europa. Então, o campeonato brasileiro era do nível do europeu. Tanto é assim que ganhamos 3 Copas do Mundo com seleções formadas localmente. A segunda falha é numérica: apesar das controvérsias diante desse número, é óbvio que se trata de uma cifra gigantesca. Mesmo que tivesse 30% menos, ainda assim seria uma enormidade. Não vale a pena perder tempo discutindo.
Meu falecido pai era carioca. No início da década de 60, o Santos fazia muitas partidas no Maracanã. Os jogos da Libertadores, por exemplo, eram muitas vezes mandados no estádio carioca. Ele foi testemunha do jogo Flamengo 1 x 7 Santos, com três gols de Pelé, em 1961. A torcida aplaudiu de pé o espetáculo. Quando se mudou para São Paulo, começou a torcer pelo Santos, paixão que passou para os seus filhos. Nesse sentido, sou viúva do Pelé, apesar de nunca tê-lo visto jogar pessoalmente. Sem dúvida, Pelé é o responsável, até hoje, pela torcida que o Santos tem.
Cada um vai ter uma opinião sobre quem foi o maior jogador de todos os tempos. Sempre que me provocam, dou minha opinião: Pelé. E dou meu motivo: quando um moleque de 17 anos fizer um gol em uma final de Copa do Mundo chapelando um zagueiro dentro da área, podemos voltar a conversar sobre esse assunto.