Depois de mais um dia extenuante de trabalho, cheguei em casa, joguei-me no sofá e exclamei: “Estou morto de cansaço!”.
Minha esposa, alarmada, imediatamente chamou um médico para verificar se aquilo era verdade. O médico garantiu: “não, minha senhora, seu marido não está morto, pode ficar tranquila. Ele só precisa de umas boas férias”.
Saindo o médico, minha esposa me deu uma senhora bronca: “nunca mais faça isso! Achei que você estivesse morto mesmo!”
Quando Bolsonaro disse “o Brasil está quebrado”, os jornais foram atrás dos médicos, digo, economistas, para atestar se era aquilo mesmo. Obviamente, disseram que não era nada daquilo, que o país não estava quebrado, mas seria bom tomar alguns cuidados. A imprensa fez o papel da esposa, que não entende uma metáfora.
Podem ficar tranquilos os analistas econômicos das redações: os investidores entendem uma metáfora. Eles sabem que o Brasil não está tecnicamente quebrado, tanto que continuam a financiar a dívida do país. Mas sabem, também, que o país está sim metaforicamente quebrado: já vamos para o sétimo ano seguido de déficit primário, e a nossa relação dívida/PIB deu um salto para mais de 90%. Portanto, apesar de não estar tecnicamente quebrado, inspira cuidados. Assim como eu não estou morto, mas à beira de uma estafa.
Na verdade, não só os investidores entenderam a metáfora, como se sentem mais confiantes quando o presidente assume metaforicamente que o país está quebrado. A leitura é de que a possibilidade de adoção de políticas populistas, que de fato poderiam levar o país a quebrar tecnicamente, está mais distante. Os investidores não precisam que o presidente “revele” que o país está quebrado. Eles sabem fazer contas.
PS.: fiquem tranquilos os amigos, não estou exausto e nem à beira de uma estafa. Foi só uma parábola para explicar a metáfora do presidente.