El Salvador é mais uma República de Bananas da América Central à qual não se presta muita atenção. Mas aqui vale a pena acompanhar a história, por ser o sonho de consumo do bolsonarismo.
Nayib Bukele foi eleito presidente do pequeno país da América Central em 2019, com apenas 37 anos, desbancando os dois maiores partidos do país, Arena e FMLN, que vinham se alternando no poder desde o fim da guerra civil, em 1992. Sua campanha foi fortemente baseada nas redes sociais, dada a falta de estrutura de seu pequeno partido, o GANA. Soa familiar?
Até aqui, as semelhanças. Agora, o sonho de consumo.
Em fevereiro do ano passado, Nayib invadiu o Congresso acompanhado de tropas para intimidar os parlamentares a aprovarem um pacote de investimentos em segurança pública. Entrevistado na época pelo El País, Nayib afirmou que, se fosse seguir a vontade do povo, que o cobrava nas redes a tomar medidas radicais, deveria ter tomado conta de tudo. Mas não, ele trabalhou pela moderação e saiu do Parlamento sem ninguém machucado e a ordem constitucional preservada.
Em fevereiro último, seu partido recém-fundado, Ideias Novas, ganhou com larga margem as eleições legislativas. O novo Congresso tomou posse no último sábado, 1o de maio, e, no mesmo dia, destituiu 5 ministros do STF deles, indicando 5 novos ministros no lugar. Não sou especialista em legislação salvadorenha para dizer se isso pode, Arnaldo.
Agora que vimos as semelhanças e o sonho de consumo, vamos às diferenças, que não são poucas.
Bolsonaro não tem maioria no Congresso. Nayib governou 2 anos sem maioria, mas agora seu novo partido conquistou 70% das cadeiras. Ou seja, em 2 anos Nayib conseguiu fundar um partido novo e logrou convencer seus compatriotas a sufragarem deputados desse partido de maneira esmagadora.
Bolsonaro começou em posição mais vantajosa comparativamente, porque a eleição do legislativo se deu ao mesmo tempo da sua. Ou seja, poderia ter começado o seu mandato já com apoio majoritário no Congresso. Não foi o que aconteceu: o PSL elegeu apenas cerca de 13% dos deputados. Além disso, em dois anos, Bolsonaro conseguiu a proeza de perder o apoio de metade desta já minguada bancada. Resultado: teve que se compor com a “velha política”, negando, na prática, seu discurso eleitoral. Aquele “povo” na rua no sábado não foi capaz de lhe dar maioria no Congresso.
Novo partido então, nem se fala. Nayib fundou o Novas Ideias, que agora domina o Parlamento salvadorenho, mostrando sua força política. Bolsonaro não consegue (ou não quer) fundar o Aliança, e agora está atrás de uma sopa de letrinhas qualquer para ser candidato em 2022. O que demonstra que o bolsonarismo é muito mais um estado de espírito do que uma força política de fato. Sua existência se dá pelo negativo, evitar que o PT volte ao poder. Falta um “Novas Ideias” ao bolsonarismo.
Em 2022, Bolsonaro terá a oportunidade de demonstrar que estou enganado, reelegendo-se e elegendo maioria no Congresso. Claro que, se isso não ocorrer, a desculpa já está sendo construída: fraude eleitoral. Restará ao capitão, então, invadir o Congresso com uma tropa, emulando seu modelo salvadorenho e, por que não, a invasão do Capitólio. Teremos, então, a oportunidade de ver com quantas bananas se faz uma República.