Vou ao mesmo supermercado todo sábado pela manhã, fazer as compras da semana. Como sou habitué, acabo fazendo amizade com os atendentes.
Há um senhor que pesa os produtos hortifruti (é um atacarejo, não tem balança no caixa). Nos poucos minutos em que interagimos, enquanto pesa os produtos, ele sempre tem algum assunto. Pode ser uma doença, alguma coisa que aconteceu no supermercado ou alguma oferta que eu não posso perder de jeito nenhum. Hoje, ele me perguntou: “você não acha que as coisas estão muito caras?”
Respondi de maneira protocolar (eu sempre respondo de maneira protocolar, não sou muito bom de fazer amizades. Acho que por isso que os estranhos gostam de conversar comigo, não falo nada, só escuto).
Ele continuou: “eu tenho três gatos. No ano passado, achei um preço bom, e comprei ração pra eles. Paguei R$0,99. Essa semana acabou o estoque que eu tinha comprado. Fui na loja e estava R$2,40! Triplicou o preço!”
Concordei, ainda que 2,40 não seja o triplo de 0,99. Mas isso é um detalhe, o ponto é que a ração dos gatos subiu muito, e o senhor sentiu no bolso a coisa.
Em um momento em que a Selic está subindo justamente para controlar a inflação, é bom que este governo tenha em mente uma verdade que desconhece cores ideológicas: desemprego é muito ruim, taxa de juros alta não é bom, mas é a inflação que derruba governos.