Aos 31 minutos do dia de hoje, 21/06, horário de Brasília, o hemisfério sul da Terra passou pelo ponto de maior ângulo em relação ao Sol, marcando o solstício do inverno e dando início à estação de mesmo nome em nosso hemisfério. Esse é o dia que marca o menor período de insolação: são 10 horas, 40 minutos e 57 segundos entre o nascer e o por do sol na cidade de São Paulo. O que nos leva, em consequência, à noite mais longa do ano.
O ser humano é chegado em uma alegoria. O inverno é, muitas vezes, associado a coisas ruins. A velhice, por exemplo, às vezes é chamada de outono da vida, a estação que precede o inverno, a morte. Uma guerra nuclear seria seguida por um “inverno nuclear”, um cenário de desolação sem a luz do Sol. Cenário este usado em filmes como Matrix, para construir uma ambientação de fim de mundo.
Também a noite é associada ao perigo, ao desconhecido, ao terror. Quando dizemos que um assalto ocorreu “em plena luz do dia”, queremos enfatizar que aquilo não era o esperado. Portanto, é durante a noite que as coisas ruins acontecem, não durante o dia. Dormimos à noite e vivemos de dia. A noite é o reino dos sonhos e dos pesadelos, um mundo que não nos pertence.
A noite é também uma óbvia alegoria para essa pandemia. Estamos passando pela mais longa noite de nossa geração, que não teve que passar por guerras. É o nosso solstício de inverno. O medo e a incerteza tomam conta da sociedade. As pessoas se recolhem e parece que vivemos em um grande pesadelo distópico.
Mas o ser humano, com seu engenho, domou o inverno e a noite. É durante a noite que nos divertimos e convivemos com a família, porque o dia é dedicado aos deveres. E é durante o sono que recarregamos as baterias. Os seres humanos precisamos da noite para viver.
A pandemia é a noite da humanidade. Durante a pandemia, fomos forçados a conviver mais com a nossa família e, porque não dizer, conosco mesmos. Conviver de uma maneira diferente, que mudará novamente quando as restrições acabarem. A noite não é ruim em si, apesar do seu estigma. A noite será tão boa quanto o que façamos com ela.
Por fim, assim como a noite mais longa do ano, apesar de longa, não é eterna, assim também a noite da pandemia será sucedida por um radioso nascer do sol. E, como na vida, aproveitaremos tanto melhor o dia quanto melhor tivermos empregado o tempo da noite.