Estou cada vez achando mais graça nesse debate sobre a tal “terceira via”, que nos livraria de ter de escolher entre o demônio e o capeta.
Ocorre que a maioria das eleições brasileiras desde a redemocratização se deu entre o capeta e alguém do chamado “centro democrático”. E o país escolheu o capeta 4 vezes. Seguidas.
Em 2018, apareceu o demônio para desafiar o capeta. E o debate foi exatamente o mesmo que estamos tendo hoje: cadê a “terceira via”? Ora, a terceira via já havia perdido do capeta nas 4 eleições anteriores. Para desbancar o capeta, só o demônio.
Essa história de que a maioria quer uma “terceira via” é teoria. Se fosse maioria, tanto o demônio quanto o capeta já estariam de malas prontas para voltar ao inferno. Mas não. Tanto um quanto o outro tem legião de apoiadores.
Então, meus amigos, o tal “centro democrático” já teve a sua chance e a jogou pela janela. Agora, é a hora de belzebu.
PS.: eleitores dos dois lados vão protestar por chamar de coisa ruim o seu candidato de predileção. Paciência.
Assim começa um post comemorando o resultado dos Correios em 2020: lucro de R$ 1,5 bilhões contra um resultado de R$ 0,1 bi em 2019. Um aumento de R$ 1,4 bi de um ano para o outro.
Como sabemos todos os que analisamos balanços, a última linha esconde mais do que mostra. Por que o lucro dos Correios subiu tanto em 2020 em relação a 2019? Abaixo um resumo da Demonstração de Resultados.
Podemos observar que a receita dos Correios foi menor em 2020 do que em 2019 em cerca de R$ 1,1 bi. No entanto, o custo dos produtos vendidos e despesas administrativas caíram, respectivamente, R$ 1,6 bi e R$ 0,1 bi, outras receitas operacionais subiram R$ 0,3 bi, as receitas financeiras subiram R$ 0,2 bi e houve um ganho com impostos de R$ 0,4 bi. Resumindo, temos:
Ganho de receitas: (R$ 0,8 bi)
Ganho de custos: R$ 1,6 bi
Ganhos financeiros: R$ 0,3 bi
Ganhos com impostos: R$ 0,4 bi
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Total: R$ 1,5 bi
Aí vamos para os detalhes do balanço. Claro que a linha que mais fez diferença foi a redução de custos. Basicamente por 3 motivos:
1) Menor despesa com plano de saúde: a participação dos funcionários no custeio do plano foi aumentado de 30% para 50%, o que resultou em uma economia de R$ 0,7 bi.
2) Menor despesa com pessoal: como foi feito um PDV em 2019, a despesa com a folha caiu outros R$ 0,7 bi
3) A despesa com o PDV em 2019 (R$ 0,3 bi) não aconteceu em 2020.Portanto, está aí a explicação para os R$ 1,6 bi de queda de custos.
A receita financeira aumentou porque os Correios detém o chamado DES – Direito Especial de Saque, moeda usada em relações postais internacionais, que se valorizou na medida em que o Real se desvalorizou absurdamente no ano passado.
Por fim, o “lucro” obtido com impostos é uma tecnicalidade relativa ao CSLL que gerou R$ 0,4 bi de lucro adicional este ano em relação a 2019.
Então, o aumento de lucro este ano não tem nada a ver com ratos e nem com petralhas. Isso não passa de propaganda bolsonarista. O aumento do lucro foi o resultado de uma combinação de redução de pessoal com aumento do custo do plano de saúde para os funcionários, valorização do dólar e filigranas tributárias.
Gastei um tempo analisando o balanço dos Correios porque este post enganoso tem dois objetivos:
1) Mostrar que o atual governo combate a corrupção nas estatais e
2) Justificar a não-privatização dos Correios
Este lucro, como demonstrado, não tem nada a ver com combate à corrupção. Foi apenas resultado de alguns fatores administrativos (corte de pessoal e de custos) e alguns fatores meramente contábeis.
Os Correios sempre deram lucro, com exceção do período de 2013 a 2016. A “roubalheira”, portanto, não impediu de a empresa gerar lucro. A inépcia administrativa, sim. Os Correios estão sendo bem geridos neste governo? Aparentemente sim. Assim como o foram durante os governos Temer, Lula e FHC.
Aqui entramos na segunda questão: privatização. Se os Correios são capazes de gerar lucro se bem administrados, por que então privatizar? Bem, não vou me alongar muito. Há vários motivos, desde a aplicação do capital em outras prioridades nacionais mais urgentes até evitar que caia novamente nas mãos de governos ineptos, passando pelo uso como instrumento de corrupção. Mas vou me ater a um só: qualidade dos serviços.
A demonstração de resultados traz uma tabela com o número de reclamações recebidas pela Ouvidoria dos Correios. Em 2018 foram 8 mil, em 2019, 15 mil e em 2020 foram nada menos do que 57 mil! Ou seja, em dois anos, o número de reclamações multiplicou-se por 7!
Aparentemente, o tal corte de pessoal e de custos fez cair a já sofrível qualidade de serviços da empresa. Ou seja, precisamos escolher: ou lucro, ou qualidade de serviços. As duas coisas, que em empresas privadas andam de mãos dadas, nos Correios parece que são incompatíveis.
Vamos ver se a privatização finalmente sai neste governo.
O FBI, em conjunto com polícias de mais alguns países, desmantelou várias organizações criminosas em uma tacada só. Como conseguiu? Em uma operação anterior, o FBI havia descoberto um aplicativo de mensagens criptografadas a que só os bandidos tinham acesso. Em troca de uma redução de pena, o criador do aplicativo foi cooptado pelo FBI para desenvolver outro aplicativo, que foi, tal qual um vírus, “inoculado” no mundo do crime. Os policiais sabem que essas organizações criminosas estão sempre em busca de meios de comunicação seguros, e o tal aplicativo, Anom, servia bem ao objetivo.
Foram três anos de rastreamento de mensagens que redundaram na operação de ontem. Com isso, o FBI matou dois coelhos: a operação em si e a desconfiança que os bandidos terão, de agora em diante, a respeito dos aplicativos que utilizam. Precisarão pensar em novas formas seguras de comunicação.
Por fim, não sei se há bandidos brasileiros envolvidos. Se for o caso, tenho certeza que os seus advogados encontrarão argumentos sólidos para convencer os ministros do STF de que a operação do FBI foi ilegal. Onde já se viu enganar bandidos para que produzam provas contra si mesmos? O FBI é muito bom, mas está para ser inventada tecnologia que supere o nosso STF.
Segundo relato feito por um oficial da PM de Pernambuco, a ordem para dispersar a manifestação contra Bolsonaro foi dada em obediência a um decreto do governo de Pernambuco, que proíbe aglomerações.
O último decreto do governo de Pernambuco sobre restrições de atividade é o 50561, de 23/04/2021. O seu artigo 8o veda qualquer tipo de evento, em ambiente aberto ou fechado, com ou sem venda de ingressos.
Claro, podemos aqui entrar em uma discussão bizantina a respeito da natureza do manifestação anti-Bolsonaro, se é ou não um evento social abrangido pela lei. É a mesma discussão a respeito da participação de Pazuello em um comício de Bolsonaro. Pazuello jura que era só um evento social, os manifestantes podem jurar que não se tratava de um evento social. No fim, se perde a essência da lei, que, no caso de Pernambuco, é o de evitar aglomerações.
Então, temos o seguinte: a PM de Pernambuco agiu para cumprir a lei de distanciamento, lei essa defendida pelos mesmos manifestantes que foram protestar contra Bolsonaro, o qual, por sua vez, é contra essa lei.
Tela azul.
Para fechar o quadro, resta saber porque a PM de Pernambuco foi tão zelosa na aplicação da lei contra os manifestantes anti-Bolsonaro, na mesma medida em que aparentemente foi leniente quando se tratou de manifestações pró-Bolsonaro.
Estudei em escola pública tanto durante o Ensino Fundamental (Escola Estadual de 1o Grau Prudente de Moraes) como durante o Colegial (Escola Técnica Federal de SP). Fiz cursinho no Objetivo com uma bolsa e entrei na Poli-USP.
No meu primeiro ano na faculdade, grande parte dos meus colegas vinham de escolas particulares, preponderantemente do Bandeirantes, que era o grande bicho-papão dos vestibulares da época. A diferença de nível era gritante. Em minha primeira prova de Física, tirei 2,5. E olha que eu não era ruim em Física, havia tirado 9,75 na prova da Fuvest, eu achava que era o ban-ban-ban. Mas a faculdade é outro nível. E meus colegas advindos de escolas particulares se saíam muito melhor neste primeiro momento.
No entanto, com algum esforço e dedicação, consegui preencher o gap, e logo estávamos no mesmo nível. Digo isso para relativizar um pouco o receio de que as cotas possam diminuir o nível das universidades públicas. Os alunos das escolas públicas têm sim um gap educacional gigante em relação aos seus pares nas escolas particulares, mas acredito que a maioria possa compensar esse gap ao longo do tempo com esforço e dedicação.
As cotas para alunos de escolas públicas procuram compensar a grande distorção da educação brasileira: o investimento de dinheiro público na educação de quem não precisa desse tipo subsídio. Ao invés de cobrar mensalidades nas universidades de quem pode pagar, prefere-se separar vagas para quem, em tese, não pode pagar. É sub-ótimo, mas ok, resolve parcialmente o problema.
Só não concordo com o fato de que termos metade das vagas nas universidades públicas ocupadas por oriundos de escolas públicas seja considerado um “marco histórico”. Na verdade, essa marca foi atingida por construção. Afinal, se eu reservo metade das vagas para alunos oriundos de escolas públicas, terei metade das vagas preenchidas por alunos dessas escolas. Onde está o tal “marco histórico”?
Marco histórico de verdade teremos quando metade das vagas nas universidades públicas forem ocupadas por oriundos de escolas públicas SEM O AUXÍLIO DE COTAS. Quando esse dia chegar, saberemos que o Brasil mudou de patamar.
O que você acha menos pior, o amarelo ou a acelga?
Confuso? Pois é, o nosso debate político encontra-se nesse nível. Somos chamados a escolher o “menos pior”. Mas em que escala? Com relação ao quê?
Entre o amarelo ou o roxo conseguimos escolher o menos pior, assim como entre a acelga e, sei lá, o agrião. Claro que tem gente que ama de paixão o amarelo ou o o roxo, assim como tem gente que adora acelga ou agrião. Mas a grande maioria dos seres humanos, quando chamados a escolherem um ou outro, escolherão o menos pior. No entanto, como escolher entre o amarelo e a acelga? São coisas em dimensões diferentes, não tem como comparar.
Assim são Bolsonaro e Lula. Um é um sociopata, incapaz de mostrar empatia, flertando continuamente com rupturas institucionais e refratário a qualquer reforma que modernize o Estado brasileiro. Outro foi o chefe de uma quadrilha que tomou de assalto o Estado brasileiro, além de ter ideias pré-históricas sobre economia.
A escolha pelo “menos pior”, na verdade, é fruto de uma percepção muito particular: o que causa mais sofrimento, uma cor ruim ou uma verdura ruim? Cada um vai fazer sua escolha de acordo com essa avaliação subjetiva, própria, da realidade. Por isso as discussões sobre o que é “menos pior” são infrutíferas e, no final das contas, inúteis.
Vamos dividir este post em duas partes. Na primeira, comentarei o aspecto econômico. Na segunda, a questão política envolvida nessa nota conjunta.
Os resultados do Mercosul
Antes de mais nada, vamos à íntegra da nota conjunta:
Comecemos pelo fim: “é necessário manter a integridade do bloco, para que todos os seus membros desenvolvam plenamente suas capacidades industriais e tecnológicas…”
Bem, dá vontade de chorar. O Mercosul foi fundado em 1991, há 30 anos portanto. São 30 anos de protecionismo comercial conjunto. O que conseguimos com isso? Onde está o desenvolvimento das “capacidades industriais e tecnológicas” das indústrias protegidas?
Temos uma tara por fabricar tudo aqui. Lembro até hoje do depoimento de Marcelo Odebrecht a respeito da Sete Brasil, a empresa criada por Dilma para fabricar sondas de exploração de petróleo. Segundo Marcelo, a empresa não parava em pé, era inviável do ponto de vista econômico. Mas sabe como é, era desejo do governo ter “autossuficiência” nesse campo. Não tínhamos como competir com os coreanos, mas a Petrobrás foi obrigada a pagar mais caro pelas sondas, subsidiando uma operação inviável.
Temos produtos notoriamente defasados e caros. As próprias indústrias têm dificuldade de manter operações de ponta aqui porque não conseguem importar a preços competitivos. Somos um dos países mais fechados do mundo. Em artigo no Valor Econômico do dia 31/05 (Por que a indústria não exporta?), Edmar Bacha lembra de uma entrevista do então chairman da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, em que lhe perguntaram porque a Renault fabricava carros com tecnologia mais avançada na Europa do que no Brasil, ao que ele respondeu: “deixem-me importar os componentes e os brasileiros terão carros tão avançados aqui quanto na Europa”.
Bacha invoca o conceito de “crescimento empobrecedor”, desenvolvido nos anos 60 pelos economistas Harry Johnson e Jagdish Bhagwati: as multinacionais, ao se instalarem no país, exploram o mercado doméstico com produtos mais caros e de pior qualidade, porque estão protegidos pelas tarifas de importação. Mas não conseguem exportar, justamente porque os produtos são mais caros e de pior qualidade. Temos então uma indústria isolada do resto do mundo, o que dá origem ao aparente paradoxo: mesmo com o câmbio extremamente desvalorizado e os juros em seu ponto mais baixo da história, a indústria não consegue exportar mais.
Mas quem defende o protecionismo quer uma indústria que produza aqui, não uma indústria que exporte. Assim, teremos “maior valor agregado” e “empregos de qualidade”, o mantra sempre entoado. Sim, com o consumidor pagando mais caro no final, seja pelos preços mais altos, seja pelos produtos de qualidade inferior.
Mas, pelo menos, com essa proteção tarifária, o fluxo de comércio entre os países do Mercosul deve ter bombado. Afinal, as alíquotas são privilegiadas para a importação e exportação entre esses países. Vejamos, então o gráfico abaixo:
Em 1997, a corrente de comércio (exportações + importações) entre o Brasil e os países do Mercosul representava quase 18% de toda a corrente de comércio brasileira. Entre 1997 e 2002, essa participação caiu para 10%, nível em que ficou pelos 15 anos seguintes. A partir de 2017, a participação do Mercosul começou a cair novamente, atingindo, em 2020, pouco mais de 6%, um terço do que era há 23 anos.
Esse gráfico é elucidativo, inclusive, para desmistificar uma crença generalizada, a de que foi o crescimento do comércio com a China o fator que fez encolher a participação do comércio com outras regiões. Não é o que vemos. O comércio com a China bombou a partir de 2003, com o início do superciclo das commodities. No entanto, a participação do comércio com o Mercosul já havia caído antes desse ano, o que indica um problema em qualquer outro lugar. Vejamos o gráfico abaixo:
Observe como a corrente de comércio com a China sobe de maneira espetacular somente depois de 2002, mas a corrente de comércio com o Mercosul cai de cerca de US$ 200 bilhões em 1997 para US$ 100 bilhões em 2002. O que aconteceu nesses 5 anos? Se lembrarmos, foi o período que compreendeu várias crises que atingiram em cheio os emergentes: crise dos tigres asiáticos, crise da Rússia, crise do Real (desvalorização) e, finalmente, a crise do Austral, com o abandono da paridade cambial com o dólar, que culminou, no final de 2001, com a renúncia de De La Rua e sua fuga da Casa Rosada de helicóptero. Enfim, o fluxo de comércio declinou por problemas internos dos países da região, não tem nada a ver com tarifas ou a falta delas.
O grande ciclo de commodities, a partir de 2003, por outro lado, fez com que a corrente de comércio brasileiro atingisse outro patamar. O comércio com a China decolou, mas não só. O comércio com Europa, EUA e Mercosul também cresceu de maneira relevante. Não houve, nesse período, nenhuma mudança tarifária relevante. Mais um exemplo de que é a economia que determina o fluxo de comércio, não as tarifas.
O pico do comércio com o Mercosul se deu em 2011, com quase US$ 500 bilhões de corrente de comércio. Hoje, 10 anos depois, temos metade desse valor, fruto dos problemas dos países da região nesta década. O comércio com Europa e EUA também caiu durante o período, mas em muito menor magnitude. Enquanto o comércio com a Europa foi o dobro em 2020 em relação a 1997 e com os EUA cresceu 150% no mesmo período, o comércio com o Mercosul foi apenas 25% maior em 2020 comparado com o nível de 1997. E note que nem estamos falando da China.
Enfim, o Mercosul, como zona de livre comércio com o objetivo de alavancar o poder industrial da região foi um rotundo fracasso. Podemos tentar continuar fazendo o mesmo que fizemos nos últimos 30 anos, ou podemos tentar mudar a estratégia. Neste ponto, entra a nota conjunta de Lula e FHC.
A questão geopolítica da nota
Vejamos novamente a íntegra da nota conjunta:
O que os dois ex-presidentes querem dizer é que não é o momento de chutar cachorro morto. A Argentina passa por (mais um) momento muito difícil, está em estado de calote com FMI e faltam dólares. Não é o momento, portanto, de agir pensando somente em si mesmo, mas sim, o momento de mostrar solidariedade com los hermanos.
Então, a questão é essa: queremos/devemos continuar associados a um país que está amarrado a um problema do qual não quer sair? A eleição de Alberto Fernandez foi o sinal mais claro de que a sociedade argentina não quer resolver os seus problemas. O governo brasileiro deve pensar no melhor para o seu próprio povo ou abrir mão de crescer mais em solidariedade ao vizinho?
Lula e FHC claramente fizeram a opção pela solidariedade. Lula, além disso, acredita que tarifas fazem bem para a economia, FHC nem tanto. Mas as considerações geopolíticas suplantaram suas eventuais reservas com relação à efetividade desse tipo de barreira ao comércio.
Mas é o aspecto político o mais interessante dessa nota conjunta.
A questão política da nota conjunta
A nota foi assinada somente por Lula e FHC. Assinaram na condição de “ex-presidentes”. Resta saber por que não chamaram Collor, Sarney e Dilma para assinarem junto. Aliás Sarney foi procurado pelo embaixador argentino para ajudar a pressionar o governo brasileiro.
Mas, por algum motivo, Sarney não assinou a tal nota conjunta. A ausência de Sarney (e de Collor, que afinal foi quem assinou o Tratado de Assunção, que estabeleceu o Mercosul) demonstra que a nota não é um “manifesto de ex-presidentes”, mas de Lula e FHC. Em outras palavras, a nota é escrita por “ex-presidentes”, mas não é uma “nota de ex-presidentes”. É só uma nota de Lula e FHC.
Ainda na hipótese de ter sido uma “nota de ex-presidentes”, a ausência de Dilma grita. Dilma, de todos os ex-presidentes, talvez tenha sido a mais entusiasta dessas políticas protecionistas. E a mais próxima dos governos Kirshner. Por que, afinal, Dilma não assina a “nota dos ex-presidentes”?
A resposta é simples: para os planos eleitorais de Lula, é essencial cancelar Dilma. Como naquelas fotos do regime stalinista, a ex-presidenta deve ser apagada. Ela serviu como símbolo do “golpe” de 2016, mas isso já passou. Hoje, é apenas o símbolo de um governo desastroso que os brasileiros querem ver pelas costas. Lula sabe que trazer Dilma para junto de si é um tiro no pé de qualquer pretensão eleitoral. Esta nota, portanto, não é geopolítica, nem ao menos política. Trata-se de uma nota eleitoral.
A nota conjunta e as eleições de 2022
Não sabemos quem procurou quem para cometer a tal nota conjunta. Mas aposto o meu mindinho que a ideia foi de Lula, o único que ganha alguma coisa com essa nota. FHC é o presidente de honra do PSDB. Uma espécie de rainha da Inglaterra no partido, mas, a exemplo da rainha, tem o seu peso institucional. Ao novamente jogar água no moinho de Lula, FHC mina mais um pouco as já ínfimas possibilidades de uma terceira via.
Com essa nota, Lula reforça sua imagem de “estadista” e, de quebra, traz junto de si, novamente, alguém que deveria estar liderando as conversas para termos uma alternativa entre o ex-capitão incendiário e o ex-presidiário.
Hoje, FHC escreve um artigo no Estadão. Pouco importa o que escreveu. O único presidente eleito pelo PSDB tornou-se o maior troféu de Lula. O que ele diz, de agora em diante, é irrelevante.
O trecho destacado abaixo é o início de um artigo publicado hoje no Estadão.
O autor diz que a imprensa estrangeira atribui atrocidades a Bolsonaro, além de ter Lula como o seu queridinho e, se pudesse votar, Lula já estaria eleito. Mas, por outro lado, afirma que o povo brasileiro sabe o que Lula fez no verão passado.
Quem é o autor? Será um bolsonarista de quatro costados, como Augusto Nunes ou JR Guzzo? Ou mesmo alguém mais crítico a Bolsonaro, mas que também não lambe a bota de Lula, como William Waack?
Nada disso. O autor é ninguém menos do que Mário Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura e ex-candidato a presidência da República contra Alberto Fujimori. Vargas Llosa pode ser considerado o FHC do Peru: um intelectual que enveredou pela política, com ideias modernas sobre economia.
Bem, pelo menos era isso que eu pensava. Vargas Llosa está fazendo campanha por Keiko Fujimori, filha de Alberto, contra o professor Pedro Castillo nas eleições de hoje no Peru. Para fazer um paralelo: imagine que Bolsonaro, dois anos depois de eleito, tivesse dissolvido o Congresso e o STF e tivesse governado por mais 8 anos de maneira ditatorial, até renunciar ao cargo. Vinte anos depois, seu filho Eduardo se candidata e chega ao segundo turno contra Guilherme Boulos. Nesse contexto, quem FHC iria apoiar?
Enquanto FHC assina notas conjuntas com Lula (falarei sobre essa nota conjunta em outro post), Vargas Llosa apoia Fujimori. Cada país tem o FHC que merece.
EVENTO é um acontecimento organizado (festa, espetáculo, comemoração, solenidade etc.) com objetivos institucionais, comunitários ou promocionais.O que é um comício ou uma manifestação política?
Um comício ou uma manifestação política é um EVENTO. Um evento organizado de promoção de um político ou de uma ideia política, com ou sem a presença de políticos. Por exemplo, comícios eleitorais ou o comício das Diretas Já ou as manifestações pró-impeachment da Dilma ou de apoio a Bolsonaro.
Está certo, portanto, o Exército Brasileiro em dizer que o general Pazuello participou de um EVENTO.
No dia 26/05 último, publiquei aqui um post com uma simulação: se 75% das doses prometidas pelo Ministério da Saúde fossem entregues, seria possível vacinar 100% da população adulta com a 1a dose até o dia 20/10.
Doria fez a mesma conta, e prometeu vacinar todo mundo no Estado até o dia 31/10. Possível é, portanto. É até conservador, se considerarmos que São Paulo está vacinando a um ritmo superior à média brasileira e a frustração na entrega das vacinas em relação ao cronograma tem ficado na faixa de 10%.
Claro que a premissa é a entrega das vacinas. Vamos ver.