No final de 2019, a Caixa lançou, com todo o estardalhaço característico de seu presidente, a linha de crédito imobiliário atrelado ao IPCA. Em reportagem um mês após o lançamento (abaixo), Pedro Guimarães falava entusiasmado sobre a nova linha de crédito, que reduziria a renda mínima exigida para a contratação do financiamento, permitindo que mais famílias comprassem o seu imóvel.
Lembro que, na época, Bradesco e Itaú foram reticentes em relação à nova linha. Foram lançar muitos meses depois e, mesmo assim, nunca fizeram grande esforço para emplaca-las. O Santander sequer oferece uma linha desse tipo.
Estamos vendo agora o problema de financiamentos atrelados ao IPCA: quando a inflação sobe mais do que a renda, o orçamento das famílias vai ficando cada vez mais apertado.
Na verdade, o problema do financiamento atrelado ao IPCA começa antes de a inflação aparecer. Como a prestação inicial é menor do que em financiamentos tradicionais, dá aquela sensação de que o mutuário pode comprar um imóvel maior.
Trata-se de pura ilusão, pois a prestação vai subir mais ao longo do tempo. Ao comprometer-se a pagar por um imóvel mais caro, o mutuário já parte de uma situação no limite. Basta uma surpresa inflacionária no meio do caminho para que o orçamento fique estressado.
A inflação afeta todos os itens de consumo de uma família. Se o financiamento imobiliário também se expande, vai disputar espaço no orçamento com os outros itens também se expandindo. Resultado: o orçamento explode e a inadimplência aumenta. Não é à toa que os grandes bancos privados foram muito cautelosos com essa linha. Afinal, seus acionistas não gostam de perder dinheiro. Já o presidente da Caixa tem outra agenda, uma vez que o seu acionista, a viúva, não se importa de rasgar dinheiro.
No meu livro, eu discuto sobre essas diferentes opções de crédito imobiliário.