No meu colegial, optei por um curso técnico de informática. Processamento de dados, chamava-se na época. Não cheguei a terminar o curso, mas aprendi o suficiente para arranjar meu primeiro emprego: professor de Basic, uma linguagem de programação, em uma das muitas escolinhas de informática que começavam a pulular pelo país. O ano era 1983, e donas de casa, estudantes e profissionais das mais diversas formações vinham aprender o que fazer com aquela geringonça, que não passava de uma máquina de escrever mais sofisticada. Eu achava aquele aparelho meio inútil, considerando o preço, nada atrativo em função da nossa brilhante Lei da Informática.
Comprei meu primeiro computador pessoal somente em 1997. O que me fez mudar de ideia? A internet. Foi com o advento da internet que comecei a ver valor agregado suficiente para compensar o investimento.
Hoje estamos mergulhados na internet. Nós não notamos a presença do ar, a não ser quando nos falta. A falha nos aplicativos de Mark Zuckerberg nos fez notar o quanto dependemos da internet. Mas já chegaremos lá.
Como dizia, estamos mergulhados na internet. Mas nem sempre foi assim. No banco onde eu trabalhava, uma grande multinacional inglesa, lembro quando a internet chegou. Ela ficava isolada em um computador solitário, onde as pessoas podiam fazer suas consultas. Os computadores pessoais dos funcionários não estavam ligados na rede mundial. Como toda tecnologia nova, havia muito receio de “contaminação”. Os ciberataques atuais demonstram que esses receios não eram infundados. Mas a esperança venceu o medo e, depois de algum tempo, todos puderam ter acesso à internet em suas próprias máquinas. Isso faz pouco mais de 20 anos. Imagine agora um mundo sem internet. Ontem, o Facebook e seus irmãos menores saíram do ar. Foi um caos. Imagine agora que, por algum misterioso motivo, toda a internet caísse para não mais retornar. O efeito provável seria uma desaceleração da atividade econômica global que deixaria o que aconteceu durante a pandemia no chinelo.
Somos hoje absolutamente dependentes da internet. Mas, por mais incrível que possa parecer, um dia vivemos sem ela. Há 30 anos, poderíamos estar escrevendo como seria o mundo sem os grandes computadores, que haviam revolucionado processos administrativos e de produção. E, no entanto, 70 anos atrás, não havia computadores. Assim como há 120 anos não havia automóveis e há 250 anos não havia máquinas a vapor. Cada uma dessas conquistas tecnológicas elevou o patamar de conforto da humanidade, ao melhorar a eficiência dos processos produtivos e comerciais. Um pobre de hoje vive com mais conforto que um rico de 200 anos atrás.
Daqui a 20 ou 30 anos, alguém estará escrevendo sobre como seria o mundo sem [preencha aqui]. Alguma nova tecnologia dominante está, neste momento, sendo gestada, e não conseguimos imaginar o que nos estará “escravizando” daqui a 20 ou 30 anos. Uso a palavra “escravizando” porque, a se julgar pelas matérias sobre a queda de Facebook e cia, a dependência desses aplicativos é tão grande que nos tornamos seus escravos.
Se pensarmos bem, somos escravos de todas as tecnologias que criamos. Não conseguimos imaginar nossas vidas sem elas. É de sua natureza que seja assim. Acostumamo-nos com o novo nível de conforto, e seria muito doloroso dar um passo atrás. A constatação de que dependemos dos aplicativos do Zuckerberg é o mesmo que constatar que dependemos do elevador em um prédio de 20 andares. É só dependência tecnológica, nada de novo desde a Revolução Industrial.