A ESG cancelou seu IPO.
Para quem não está familiarizado com essa sopa de letrinhas, explico. ESG é a sigla em inglês que denomina os esforços das empresas para cumprirem uma agenda de apoio a questões ambientais, sociais e de governança corporativa (Environment, Social & Governance). IPO é a abertura do capital de uma empresa na bolsa, através da oferta de suas ações para o grande público (Initial Public Offering).
Uma empresa de gestão de resíduos batizada com o sugestivo nome ESG tentou abrir o seu capital na bolsa, mas não encontrou compradores para as suas ações a um preço razoável. Desistiu.
Ao adotar a sigla ESG como o nome da empresa, seus dirigentes devem ter achado uma grande sacada surfar na onda de “investimentos conscientes” que tomou conta do mercado e, por que não dizer, da sociedade. Afinal, uma empresa ESG mereceria uma maior atenção e complacência por parte dos investidores, que topariam pagar mais caro para ter o nome ESG estampado em seus portfólios. Descobriram que os investidores ainda fazem conta e, como tudo, ser ESG tem um preço.
Este não é um evento isolado. A China anunciou metas agressivas de cortes de emissão de gases de efeito estufa. Com limitações na produção de energia decorrentes dessas metas, várias de suas cidades estão enfrentando apagões, prejudicando a produção da fábrica do mundo e espalhando o receio de uma desaceleração da locomotiva do planeta. Um dos motivos para a queda recente das bolsas é esse. Os investidores já começam a pensar se essas metas de redução de emissão não estão agressivas demais.
O preço do petróleo está nas alturas e continua subindo. Mesmo assim, o leilão de áreas de exploração da ANP foi um fracasso completo. Apesar de haver questões ambientais envolvidas, o fato é que os produtores de petróleo já começam a avaliar se vale investir na exploração do ouro negro em uma economia em transição energética. Sem investimentos em produção, o preço sobe. Resultado: gasolina mais cara. Como queremos um mundo melhor mas com gasolina barata, o governo vem se virando nos trinta para achar uma solução para os preços dos combustíveis.
Todo mundo é a favor do bem e contra o mal. Fala-se em conter o aquecimento global como se fosse o bem absoluto, um objetivo contra o qual somente empresas malvadas que visam o lucro acima de tudo se oporiam. O fato é que a transição energética envolve custos, e não somente para as empresas, mas para sociedade como um todo. Estamos dispostos a pagar mais caro pela energia e pela comida? Pois é disso que se trata.
O fracasso do IPO da ESG não poderia ser mais simbólico das dificuldades da agenda ambiental.