O alheamento de Brasília

O filme “Procura-se um amigo para o fim do mundo” é interessante, entre outras coisas, porque mostra as diversas atitudes que as pessoas podem ter em relação ao fim da vida. Uma das mais interessantes é o completo alheamento, representado pela faxineira mexicana que faz a limpeza semanal da casa do protagonista.

Uma vez tendo conhecimento do meteoro que iria chocar-se contra a Terra, o protagonista diz para a faxineira que ela estava dispensada. Afinal, que sentido havia limpar uma casa a duas semanas do fim do mundo? Ao ouvir que estava dispensada, a faxineira muda o semblante, mostrando tristeza e decepção. Estava sendo despedida! Por que? O serviço não estava agradando? O protagonista, então, percebe que ela não estava sabendo de nada. Sua vida continuava como antes. Para não decepciona-la, ele concorda em manter o serviço. Ela sai toda contente da casa e efetivamente volta na semana seguinte, como se nada estivesse para acontecer.

Nos últimos dias, a bolsa despencou, os juros e o dólar subiram, mas as pessoas continuam nas ruas, em suas rotinas, como se nada estivesse acontecendo. Às vezes, podemos ter a impressão de que o mercado é uma espécie de ente à parte, formado somente por especuladores em busca do lucro, divorciados da realidade das pessoas. Nada mais longe da realidade. O mercado financeiro é uma espécie de pele sensível, que sente antes de todo mundo os problemas econômicos. É o dinheiro de todos nós, empresas e pessoas, buscando proteger o seu poder de compra.

O mercado antecipa os meteoros. No final do livro Big Short (não me lembro se esta cena está também no filme A Grande Aposta), um dos protagonistas observa as pessoas na rua, andando despreocupadas, como se nada estivesse para acontecer, e pensa como a vida dessas pessoas vai virar de cabeça para baixo por causa da crise do subprime. De fato, o mercado estressou em 2008, mas a grande recessão econômica ocorreu somente em 2009.

O mercado está nervoso, muito nervoso, avisando que tem um meteoro vindo em direção ao Brasil. Mas, em Brasília, os políticos continuam cuidando da faxina da casa como em um dia qualquer.

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