Não importa onde você leia uma análise da série Round 6. Pode ser positiva, negativa, focar no sucesso do audio-visual coreano ou na violência, pouco importa. Estará lá, indefectível, a alusão à “crítica ao capitalismo” ou à “desigualdade de renda”.
Se isto pode ser verdade para Parasita, está longe de sê-lo para Round 6. Na reportagem, os personagens são caracterizados como “desempregados em dificuldades financeiras”. Bem, não sei a que série o repórter assistiu. Na série a que eu assisti, o protagonista está super endividado porque é um tremendo de um preguiçoso irresponsável. A tal “sociedade capitalista” não marginalizou o sujeito. Ele se auto-marginalizou.
Ok, sem dúvida há um imenso fosso entre ricos e pobres, principalmente em sociedades onde alguns são tratados melhor do que outros pela lei. Por outro lado, tratar as pessoas como incapazes de melhorar suas próprias vidas através das suas escolhas livres, é falsear a realidade. Essa discussão sobre desigualdade de renda é um pouco como a questão do aquecimento global: todo mundo concorda que algo precisa ser feito, cobra dos governos alguma atitude, mas ninguém quer se mover um milímetro do seu lugar. O problema são sempre os outros.
O mais paradoxal nessas obras ditas de “crítica social” (a matéria cita também o filme Coringa) é que seu resultado prático final é concentrar ainda mais a renda nos bolsos dos seus produtores, no caso, a Netflix. A série Round 6 já vale quase US$ 1 bilhão, e os acionistas da empresa não devem estar reclamando. E se, como no caso, o dinheiro vem junto com uma “crítica social”, melhor ainda. Afinal, nada como ganhar dinheiro construindo um outro mundo possível.