Deixem a memória do Holocausto em paz

Protestos tomam conta da Áustria e outros países da Europa contra novas medidas de contenção do coronavírus. As restrições aos não vacinados fizeram surgir um tipo de paralelo comum quando se quer jogar uma bomba de fumaça sobre a real natureza do que está em jogo: a comparação com o Holocausto.

Os anti-vacinas não estão sendo originais. Aqui mesmo no Brasil, há pouco tempo, Weintraub comparou os bolsonaristas presos com os judeus perseguidos pelo nazismo. E, na campanha eleitoral de 2014, Lula comparou os petistas com os judeus, perseguidos pelos nazistas do PSDB.A diferença fundamental entre essas situações e a dos judeus europeus na década de 30 (na verdade, a dos judeus europeus de qualquer década), é que estes pagaram com a vida pelo simples fato de terem nascido judeus. Não foi uma escolha política, como ser petista, bolsonarista ou anti-vacina.

Nesses casos, há um entendimento torto do conceito de liberdade de escolha, em que a escolha não traz consequências. Quer dizer, reivindicam o direito de serem petistas, bolsonaristas ou anti-vacina sem qualquer tipo de resistência. Se há oposição à escolha (natural, porque há outros elementos da vida em sociedade que vão além da liberdade pessoal), já se colocam como vítimas de perseguição.

Alguns estranharão o fato de classificar o movimento anti-vacina como político. Pois é, não tem nada mais político do que sair protestando nas ruas. Os protestos pretendem imputar aos governos uma intenção política na decisão de restringir os direitos dos não-vacinados, como se quisessem separá-los do resto da sociedade, atribuindo-lhes um status infra-humano. Daí as estrelas amarelas, um símbolo político forte. Não por coincidência, os movimentos anti-vacina se identificam com uma determinada corrente política.

Meus avós maternos escaparam de campos de concentração. Por isso, para mim, ver a estrela amarela ser usada como símbolo político é revoltante. Comparar essa situação com a dos judeus perseguidos pelo regime nazista é de uma canalhice sem limites. Não quer tomar vacina, ok, direito seu. Mas deixe a memória do Holocausto em paz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.