Se alguém me perguntasse, quando garoto, o que eu queria ser quando crescesse, minha resposta era sempre rápida e certeira: astrônomo.
Eu era simplesmente vidrado por coisas relativas ao espaço, principalmente o sistema solar. Lembro de uma determinada aula sobre o tema, quando eu estava na 7a ou 8a série, em que a professora de Ciências enumerou os planetas de dentro para fora. Plutão, como sabemos, era o último. No entanto, eu já havia lido que a órbita de Plutão é muito excêntrica, fazendo com que, periodicamente, o último planeta do sistema ficasse mais próximo do Sol do que Netuno, o oitavo planeta. Estávamos justamente em um desses períodos, que foi de 1979 a 1999. Levantei a mãozinha e ousei dizer que, naquele momento, Plutão estava mais próximo do Sol do que Netuno. Claro que a professora de Ciências, que precisava ensinar um pouco de um monte de coisas, não tinha aquele conhecimento específico, e descartou sumariamente a minha contribuição ao debate. Na ocasião, aprendi que convicções podem facilmente substituir a ciência em mentes pouco curiosas.
Com o passar do tempo, outros interesses foram substituindo a astronomia, que passou a ser apenas mais um assunto interessante no rol de minhas curiosidades. Quando criança, a astronomia proporcionava-me a gostosa sensação de imaginar como seria visitar os planetas, como se fossem países distantes e exóticos. Captava-me a imaginação as distâncias incríveis e a paisagem que, supostamente, os moradores daqueles planetas contemplariam. Na medida em que o tempo foi passando, meu interesse migrou dessa coisa mais, digamos, geográfica, para algo mais filosófico: a origem do universo e da vida.
Essa é basicamente a missão do novo super-telescópio que a NASA lançou ontem: perscrutar os confins do universo em busca do nosso passado e procurar sinais de vida em planetas distantes, em busca, talvez, do nosso futuro. A origem do universo e da vida talvez sejam os dois pontos em que a ciência e a filosofia se toquem de maneira mais dramática.
A coincidência com o Natal para esse lançamento deve ter sido escrita por alguém superior, que estabeleceu as órbitas de modo a fazer coincidir o melhor momento para o lançamento com a data em que se comemora o nascimento do menino-Deus. Ou talvez tenha sido uma mera coincidência, nessa natureza que não para de nos surpreender com suas maravilhas aleatórias. Ou foi somente fruto de um chefe de missão rabugento, que não gosta do tempo do Natal e quis estragar a data de toda a sua equipe. De qualquer forma, não deixa de ser sugestivo que uma missão que tem como objetivo auscultar o coração do universo tenha seu início nessa data tão cara à humanidade.
Natal e Ano-Novo são dias como outros quaisquer, na marcha batida do tempo. Nós, seres humanos, é que damos o seu significado, pois a nossa espécie não vive sem dar significados às coisas e aos acontecimentos. Assim como a Terra é um planeta como outro qualquer, perdido na imensidão vazia de trilhões e trilhões de corpos celestes, cada um solitário à sua maneira. Mas a vida e a humanidade dão um significado especial para a Terra, assim como nós damos um significado especial para o Natal e o Ano-Novo, que, de outra forma, seriam dias como outros quaisquer, perdidos na imensidão dos dias que passam.
O novo telescópio tem como missão descobrir os segredos do universo e da vida. Essa é a missão da ciência, sempre em busca da verdade sobre o mundo físico. Mas a ciência não tem nada a dizer sobre o amor, a paz e a harmonia entre os homens. Para isso, somente a sabedoria de cada um de nós tem a própria resposta.
Um Feliz Natal e um Ano-Novo cheio de sabedoria para todos nós.