Joe Biden vai enfrentar os frigoríficos. Ao que parece, estão a explorar sua vantagem de mercado para impor preços mais altos. Mas Joe não vai deixar barato não! Quem esses frigoríficos pensam que são?
Bem, como sempre, fui dar uma olhada nos dados. A tabela abaixo, construída a partir de dados do Bureau of Labor Statistics, mostra a diferença entre a inflação geral e a inflação da carne nos EUA nos últimos 5 anos (sempre medindo a inflação dos últimos 12 meses). Números positivos (em mais verde) significam que a inflação geral foi maior que a inflação da carne, números negativos (em mais vermelho) significam que a inflação da carne foi maior que a inflação geral. Portanto, quanto mais vermelho, mais Biden tem razão (a ligação da cor vermelha com Biden foi completamente não intencional).
O que podemos observar? Em primeiro lugar, agora em novembro (último dado de inflação disponível), de fato, a inflação da carne está bem maior que a inflação geral. Mais precisamente, 9,1 pontos percentuais maior. A inflação da carne nos últimos 12 meses foi de 16,0%, contra uma inflação geral de 6,9%. É a essa diferença que Biden se refere em sua cruzada contra os frigoríficos.
Mas continuemos a observar a tabela. Se a inflação da carne está bem maior agora, já esteve bem menor em vários momentos dos últimos 5 anos. Aliás, observando as áreas verdes, em grande parte do tempo nesse período a inflação da carne foi menor que a inflação geral. Parece que o tal “poder de mercado” dos frigoríficos só se fez presente mais recentemente. Será que houve uma concentração de mercado somente nos últimos 2 anos?
Aliás, concentração de mercado somente é problema se os competidores atuam como um cartel, determinando preços. Mas, aparentemente, não é esse o problema, para o qual, aliás, já existe lei. Grandes mercados são, via de regra, concentrados, até porque os ganhos de escala falam mais alto. O que importa é que haja competição entre as empresas, sejam elas duas, cinco ou cem. Claro que a concentração facilita o cartel. Mas, repito, para isso já existe lei.
Enfim, Biden está em seu momento de “caçador de boi no pasto”, de triste memória por aqui. Preço de carne, como o de qualquer commodity, é determinado pelo mercado global, os frigoríficos são meio que reféns. Aliás, empresas pequenas são, via de regra, menos eficientes, o que tornaria o preço da carne, no longo prazo, mais alto.
A cereja do bolo dessa história é o fato de o campeão da preservação do meio ambiente, Joe Biden, estar brigando para diminuir o preço da carne, quando deveria estar fazendo justamente o oposto para desestimular o consumo pois, como sabemos, a pecuária é uma das principais fontes do aquecimento global. Bastou que a inflação da carne batesse em sua popularidade, Biden não hesitou em escolher o lado. O que demonstra, mais uma vez, a dificuldade de implementação da agenda de combate às mudanças climáticas.