Ministro da Fazenda é como técnico de futebol: se o time não está bem, acaba sobrando para o técnico. Em um país com a economia instável como a brasileira, não é à toa que a cadeira de Ministro da Fazenda seja do tipo ejetável.
Ao longo da história da República (portanto, 132 anos, 1 mês e 20 dias no dia de hoje), a se confiar nos dados da Wikipedia, tivemos um total de 69 ministros da Fazenda diferentes (sem contar os interinos), sendo que Paulo Guedes é o 69º da série. Ou seja, em média, um ministro a cada 1 ano e 11 meses.
Ruy Barbosa foi o primeiro ministro da Fazenda da era republicana, no governo de Deodoro da Fonseca. Durou 1 ano e 2 meses no cargo, o que demonstra que sabedoria e erudição não são condições suficientes para manter o ministro da Fazenda em sua cadeira. E nem tampouco são condições necessárias, como restou demonstrado ao longo da história.
O posto de ministro da Fazenda já serviu como trampolim para voos mais altos: Rodrigues Alves foi ministro da Fazenda de Floriano Peixoto e Prudente de Morais antes de ele mesmo ter se tornado presidente, Getúlio Vargas foi ministro da Fazenda de Washington Luís e Fernando Henrique Cardoso foi ministro da Fazenda de Itamar Franco.
O mais longevo ministro da Fazenda da história brasileira foi o desconhecido (para nós) Artur de Sousa e Costa, que conseguiu ficar na cadeira de ministro da Fazenda durante incríveis 11 anos e 3 meses durante a ditadura Vargas. Essa longevidade confirma a tese de que estabilidade política (mesmo que seja na marra) e econômica forma o ambiente propício para o ministro da Fazenda se manter em seu cargo.
Nessa linha, podemos identificar dois períodos em que houve uma baixa rotatividade dos ministros da Fazenda (além da ditadura Vargas): o período da ditadura militar e o período pós-Plano Real.
Durante a ditadura militar tivemos um total de 5 ministros da Fazenda em quase 21 anos, ou uma média superior a 4 anos por ministro.
No pós-Plano Real, tivemos 10 ministros da Fazenda em 27 anos e meio, ou um ministro a cada 2 anos e 9 meses, que é 40% acima da média histórica. É neste período que temos o segundo e o terceiro ministros da Fazenda mais longevos da história: Guido Mantega, que ficou no cargo por 8 anos e 9 meses, e Pedro Malan, que foi ministro da Fazenda de FHC durante 8 anos.
Apenas como curiosidade, a lista dos mais longevos ministros da Fazenda depois dos três citados são os seguintes:
4º: Delfim Netto (governos Costa e Silva e Médici): 7 anos
5º: Ernane Galveas (governo Figueiredo): 5 anos e 1 mês
6º: Mario Henrique Simonsen (governo Geisel): 5 anos
7º: José Leopoldo de Bulhões Jardim (governo Rodrigues Alves): 4 anos (o mesmo Jardim foi ministro da Fazenda no governo Nilo Peçanha três anos depois, mas considerei apenas mandatos em anos consecutivos. Nesse sentido, Osvaldo Aranha ocupou o cargo por 3 anos e 10 meses, mas em dois governos não consecutivos de Getúlio Vargas).
Depois destes, há somente ministros com menos de 4 anos de mandato, grande parte com menos de 2 anos. Se Paulo Guedes chegar ao final do governo Bolsonaro, empatará com o ministro de Rodrigues Alves em 7º lugar, com 4 anos consecutivos como ministro da Fazenda.
Fiz toda essa pesquisa levado pela curiosidade de verificar se havia algum ministro da Fazenda mais longevo que Guido Mantega, que hoje nos brindou com um artigo na Folha representando o “pensamento econômico” de Lula, e que será objeto de outro artigo. Como vimos, Mantega é o 2º ministro da Fazenda mais longevo da história, o que nos diz um pouco sobre o Brasil.