Já comentei aqui algumas vezes a mágica que se pode fazer com números. Basta mudar a escala, e um número pequeno parece grande e vice-versa. Foram exemplos o número de óbitos por Covid na Índia em determinado momento (um óbito a cada 3 segundos, o que não significava nada para um país como a Índia), ou o desmatamento de centenas de campo de futebol na Amazônia, o que também não significa muita coisa.
Pois bem. Notinha do Estadão usa esse velho truque para passar a impressão de que o livro de Guilherme Boulos está bombando de vender. “Um livro a cada 2 minutos”, de fato, parece um ritmo alucinante. Nesse ritmo, seriam 260 mil livros por ano, o que faria de Boulos um dos maiores best sellers do mercado editorial brasileiro.
A pegadinha está nas palavras “na primeira hora”. Foram 30 livros na primeira hora. Dito dessa maneira, não parece lá muito impressionante. Eu mesmo devo ter vendido algo parecido na primeira hora depois de ter anunciado meu livro aqui no Facebook e nos meus grupos de WhatsApp. A primeira hora é dos amigos que têm piedade do autor e compram não somente para si, mas para presentear os parentes. Na verdade, o primeiro dia é o melhor dia de vendas para o livro de um autor desconhecido. O teste de fogo é do segundo dia em diante. É sintomático que o jornalista não tenha sequer mencionado as vendas do primeiro dia, mas somente as da primeira hora, e usando um truque manjado.
A única eleição de destaque de Boulos foi a última pela prefeitura de São Paulo, quando chegou ao segundo turno contra Bruno Covas. Perdeu por 60 a 40, mas não pela falta de apoio de jornalistas como o autor da nota, que não medem esforços para inflar a bola do novo queridinho das esquerdas. Nem que, para isso, tenha que usar truques manjados de estatística.