A última palavra é a minha

Entrevista com especialista que condena o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. Muito cedo ainda, diz a especialista, sem dar uma pista de quando exatamente seria o momento para isso.

O que me chamou a atenção foi a citação da Coreia do Sul como contra-exemplo. Apesar de distribuírem máscaras de boa qualidade para a população, a baixa taxa de vacinação teria posto tudo a perder.

Bem, está tudo errado. Em primeiro lugar, achei estranha a afirmação de que a Coreia estaria atrasada na vacinação a essa altura do campeonato. Fui checar. Na verdade, o país é um dos mais adiantados, conforme podemos ver no gráfico abaixo. Além disso, é matematicamente impossível, em um país com uma grande população de idosos como a Coreia, vacinar 87% da população sem vacinar os idosos.

Se houve vacinação, decorre que a distribuição de máscaras em si aparentemente não foi suficiente para evitar um grande surto na Coreia. Então temos três falhas no raciocínio da especialista, uma factual e duas de lógica:

1) a factual é a informação sobre a vacinação;

2) a primeira falha lógica se refere à baixa vacinação na Coreia como causa do surto. Ora, se a vacinação lá estivesse baixa, o problema não estaria na falta de máscaras, mas na falta de vacinação. Um país como o Brasil, com alta taxa de vacinação, poderia, em determinado momento, abrir mão das máscaras. A referência à baixa vacinação da Coreia, na verdade, reforça o case pelo abandono das máscaras em países com alta taxa de vacinação;

3) a segunda falha lógica é afirmar que a Coreia distribui máscaras de excelente qualidade para toda a população. Se isso for verdade e, mesmo assim, o país enfrenta um surto, isso depõe contra as máscaras, não a favor.

Mas essas falhas de argumentação não são nem o ponto mais contraditório da matéria. A grande questão é que uma decisão tomada com base no parecer de um comitê científico está sendo contestada por especialistas. Fica parecendo que a ciência tem a última palavra, desde que eu concorde com ela.

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