Existe energia suja, muito suja e imunda. A energia gerada a partir da queima do carvão enquadra-se nessa última categoria. Reportagem de página inteira hoje no Valor nos faz saber que o uso do carvão bateu o recorde histórico de uso em 2021. Mesmo os EUA de Biden, o amigo do clima, queimou mais carvão em 2021 do que os EUA de Trump, o arqui-inimigo do clima, havia queimado em 2019. Só não vou gargalhar porque rir em velório é de mau tom. Agora, a Europa procura desesperadamente alternativas ao gás russo. Adivinha no colo de quem a Europa vai cair. E tome carvão.
A reportagem nos conta que novas plantas de produção de carvão não estão recebendo financiamento, em função de exigências ESG. Resultado: o preço do carvão foi para as alturas (assim como, de resto, os preços dos combustíveis fósseis de maneira geral). A transição para energias limpas (solar e eólica principalmente) vem sendo exasperantemente lenta. Há claramente um problema de sincronismo. Resultado: energia (bem) mais cara no curto prazo.
Energia cara não é, de modo algum, popular. Não por outro motivo, governos em todo o mundo buscam formas de subsidiar os combustíveis fósseis neste momento. Na mesma reportagem, o secretário-geral da ONU, António Guterres, chama de “loucura” essa “corrida para os combustíveis fósseis”. Gosto de pensar no secretário da ONU proferindo essas graves palavras em seu gabinete na ONU com calefação obtida com a queima de carvão. O preço pode subir quanto for, a calefação na ONU estará garantida. O mesmo não se pode dizer de seus quase vizinhos do Bronx.
O problema da transição energética é que se trata de algo que tem um custo. E esse custo não é dos governos ou mesmo das empresas. Esse custo é de quem paga pela energia. Cúpulas do clima sempre terminam repletas de promessas. Só falta avisar quem vai pagar por elas.