A dura realidade das mulheres comuns no mercado de trabalho

A jornalista Natuza Nery coloca-se como exemplo de como a maternidade pode tornar as mulheres mais produtivas (pelo que entendi, porque ficam gratas pelo acolhimento da empresa em que trabalham e procuram compensar trabalhando ainda mais).

Natuza Nery é uma das principais jornalistas da principal empresa de comunicação do Brasil. Seu passe deve ser bem caro e seu salário deve lhe permitir contratar mais de uma babá. Poucas mulheres no Brasil realmente podem se comparar profissionalmente com Natuza Nery. Esse fato simples e facilmente verificável não a impede, no entanto, de se colocar como exemplo para todas as mulheres do Brasil, e de comparar a Globo com todas as empresas do Brasil.

Essa declaração de Natuza foi feita a respeito de uma frase do novo ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que ousou afirmar que as mulheres ganham menos provavelmente porque engravidam, o que, obviamente, foi classificada como uma fala machista.

Tive oportunidade de escrever um post a respeito desse assunto, em que recupero alguns artigos acadêmicos que levantam a possibilidade de que mulheres ganhem menos do que homens com mesma idade porque a maternidade lhes exige dupla jornada, o que, na média, poderia atrasar ou até mesmo interromper suas carreiras. Podemos gastar rios de tinta e horas de TV falando sobre a injustiça dessa situação, mas essa é a situação, e há muito pouco o que a maioria das empresas pequenas e médias possa fazer a respeito.

Lacrar sendo uma jornalista superstar da Rede Globo, ainda mais quando quer passar a mensagem de que esse presidente não passa de um misógino, é fácil. Difícil mesmo é tratar um assunto desses com objetividade.

Frustração

Vacinas contra Covid não são confiáveis!

Grande parte da população brasileira tomou vacinas contra Covid.

Urnas eletrônicas não são confiáveis!

A contagem dos votos nas eleições brasileiras será feita pelas urnas eletrônicas e o resultado servirá para eleger os novos mandatários a partir de 2023.

Pesquisas eleitorais não são confiáveis!

Pesquisas continuarão guiando as estratégias eleitorais, como sempre aconteceu.

Deve ser muito frustrante conhecer a verdade e não conseguir convencer a maioria das pessoas.

Uma girafa com pretensão de ser um cavalo

Alguém já disse que a girafa é um cavalo redesenhado por um comitê multidisciplinar.

Tive essa impressão quando vi o logo da propaganda da chapa Lula-Alckmin.

O novo marqueteiro de Lula já havia afirmado que pretendia “desavermelhar” a campanha do PT. Acho até que ele talvez tivesse uma boa ideia, mas parece que o resultado final passou por um comitê.

Tem vermelho, tem verde e amarelo, tem bandeira do Brasil, tem a palavra Brasil, tem juntos com uma letra de cada cor, tem o “A” sobre o “O” como se tivesse sido feito de última hora. Faltaram somente a estrela do PT e a pomba do PSB, mas acho que deve ter esgotado o tempo da sala da reunião do comitê e não deu tempo de colocar.

Ao invés de resultar em uma peça única e harmoniosa, a coisa parece mais uma colagem caótica de muitas ideias conflitantes. Uma agressão visual.

Mas, pensando bem, essa peça representa fidedignamente a aliança Lula-Alckmin e o contorcionismo que os marqueteiros vão precisar fazer para edulcorar o velho lulopetismo. É isso aí mesmo, não está errado. A candidatura Lula e a aliança Lula-Alckmin são uma girafa com pretensão de ser um cavalo.

Enquete não é pesquisa

Reza a lenda que Rodrigo Constantino é economista. Como todo economista aprende na faculdade, existe um negócio chamado “amostragem”, em que se procura aferir as características de uma população a partir de uma amostra dessa mesma população, de modo a reproduzir as características da população como um todo.

Em pesquisas eleitorais, procura-se reproduzir na amostra as características de gênero, idade, região, renda, escolaridade, etc da população como um todo. Dessa forma, tenta-se aproximar o melhor possível as características da população como um todo. Óbvio que a amostragem sempre será imperfeita, por isso temos a chamada “margem de erro”.

Pode-se questionar o método de amostragem ou mesmo a boa fé desse ou daquele instituto de pesquisa. Mas Constantino inovou, ao declarar que enquete é muito melhor do que pesquisa por amostragem para aferir a preferência do eleitorado.

Vou procurar dar um exemplo do absurdo da ideia. Imagine que você tem dois sacos com 100 bolas cada uma. Um dos sacos só tem bolas vermelhas e o outro só tem bolas brancas, mas você não sabe disso de antemão. A única coisa que você sabe é que as bolas não foram distribuídas aleatoriamente entre os sacos. Ou seja, pode haver proporções diferentes de bolas vermelhas e brancas a depender do saco. A sua missão é tentar descobrir a proporção de bolas vermelhas e brancas que existem na soma dos dois sacos.

O método científico indica que você deveria tirar um número igual de bolas de cada um dos dois sacos, pois os dois sacos têm o mesmo número de bolas (100). A estatística mostra que, após um número relativamente reduzido de bolas retiradas de cada saco, é possível saber com razoável precisão qual a proporção de bolas vermelhas e brancas nos dois sacos.

Constantino teve uma ideia diferente. Ele propõe tirar todas as bolas de um saco só. A ideia é de que, como serão muitas bolas retiradas, o resultado será muito mais confiável. Ora, não precisa ser um gênio da estatística para sacar que, a depender do saco escolhido, a conclusão será de que existem 100% de bolas vermelhas ou 100% de bolas brancas, o que está muito longe da realidade.

Esta é a diferença entre enquete e pesquisa. Na pesquisa, toma-se o cuidado de escolher uma amostra que represente a população. Na enquete, por outro lado, qualquer um vota. Por maior que seja o número de votantes, parece óbvio que não há compromisso algum com uma amostra representativa da população. Corremos o risco de tirar todas as bolas de um mesmo saco.

No caso específico da enquete que dá ampla vantagem a Bolsonaro, quem tende a votar é quem frequenta as redes sociais. Sabemos que este é um terreno dominado por Bolsonaro, que tem mais seguidores do que todos os seus competidores somados. Ocorre que esta é uma amostra enviesada da população. Segundo todas as pesquisas com amostragem corretamente estratificada, Lula lidera com folga no estrato com renda até dois salários mínimos, que tende a ter menor presença na internet. Em resumo, a enquete tende a tirar bolas somente de um dos sacos. Portanto, por mais bolas que sejam retiradas, não representa a proporção correta de votos.

Constantino sabe disso, ele é um bom economista. Uma pena ter enterrado sua carreira de maneira tão melancólica.

PS.: no final, Bolsonaro até pode ganhar as eleições, há toda uma campanha pela frente, e pesquisa é um retrato do momento, não quer dizer nada sobre o que vai acontecer daqui a 5 meses. Isso não significa, porém, que enquete seja melhor que pesquisa por amostragem para aferir a proporção de intenção de voto da população. Não se trata de opinião, isso é matemática.

Pesquisa boa para quem?

Uma pesquisa boa para a 3a via…

Na pesquisa anterior da CNT/MDA em fevereiro, o ex-juiz Sérgio Moro tinha 6,4% das intenções de voto. Nesta pesquisa, já sem Moro, a variação das intenções de voto dos candidatos foi a seguinte:

Lula: – 1,6 pp (pontos percentuais)

Bolsonaro: + 4,0 pp

Ciro: + 0,4 pp

Doria: + 1,3 pp

Tebet: + 1,7 pp

Janones: + 1,0 pp

Ou seja, Bolsonaro sozinho ganhou 4 pontos percentuais enquanto os candidatos da “terceira via” ganharam, juntos, 4,4 pp. Estes candidatos todos tiraram 1,6 pp de Lula, 0,4 pp dos indecisos e herdaram 6,4 pp de Moro.

A notícia boa para a “terceira via” seria se UM dos candidatos herdasse TODOS os votos. Não aconteceu. Aliás, quem herdou mais da metade dos votos de Moro foi Bolsonaro.

Não há novidade nenhuma aqui, apenas a confirmação do que já apontaram outras pesquisas. O que me chamou a atenção foi só a manchete, que deve ter sido escrita pelo estagiário da redação, com todo respeito aos estagiários.

O ser humano é surpreendente

É simplesmente impressionante a semelhança de discurso entre anti-petistas e anti-bolsonaristas. Posso dizer que tenho uma rede diversificada de amigos aqui, mais pendente para a direita mas, mesmo assim, com vários amigos que são anti-bolsonaristas convictos, além dos anti-petistas, que são em maior número.

Tanto anti-petistas como anti-bolsonaristas não são, em princípio, bolsonaristas e petistas respectivamente. Pelo menos, não se colocam como tal, chegam a tecer críticas a Bolsonaro e a Lula (respectivamente). Mas são vistos pelo outro lado como bolsonaristas ou petistas enrustidos.

Em ambos os casos, o voto em Bolsonaro ou Lula, respectivamente, representa a luta pela decência na política, pela verdadeira democracia, pela limpeza, na medida em que evita que o outro lado chegue, ou permaneça, no poder. O outro lado representa tudo o que é oposto a isso.

O mais incrível é que todas essas pessoas são decentes, trabalhadoras, cidadãos respeitáveis. Simplesmente não é possível que somente um lado seja desonesto intelectualmente ou tenha sido acometido de cegueira ideológica. O ponto é que veem o mundo de sua própria perspectiva, com seus próprios óculos.

Acho isso tudo fascinante. É realmente incrível como uma mesma realidade tenha o condão de gerar avaliações morais opostas. O ser humano é surpreendente.

PS.: tenho certeza que os comentários irão comprovar a tese.

Todo mundo é fascista

Lula quer devolver o “fascismo” ao esgoto da história.

Resgatei um trecho de um texto publicado em um blog que apoia Lula. Por gentileza, leia esse pequeno trecho antes de continuar.

Parece referir-se a Bolsonaro, certo? Pois é. Esse trecho não é de hoje. Foi escrito por Luís Nassif em 2010, e se referia, pasmem, ao ”fascismo” de ninguém menos que FHC!

A palavra fascismo foi gasta pelo PT, não serve para mais nada.

Voto bissexto

Além do ano bissexto, sabe mais o que acontece de quatro em quatro anos? A esquerda sai em busca dos votos dos evangélicos e do mercado financeiro.

Durante três anos, evangélicos são idiotas semianalfabetos que dão o seu pouco dinheiro para pastores inescrupulosos.

Durante três anos, o mercado financeiro produz injustiças, concentrando renda e sustentando bilionários às custas do proletariado que mal consegue ter três refeições por dia. Ah, de quebra, são os responsáveis pela violência, pois marginalizam uma boa parte da população.

De quatro em quatro anos, saem feito loucos fazendo reuniões para mostrar que respeitam muito os evangélicos e os farialimers. E tem evangélico e farialimer que cai nessa.

O presidente isolado

As posições de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco deixam Bolsonaro isolado em sua batalha em torno do sistema de apuração de votos. Lembrando que os dois chefes das Casas Legislativas foram eleitos com sólido apoio do Palácio do Planalto, o que torna ainda mais significativa a posição de ambos sobre o assunto. Apesar de não representarem todos os parlamentares, os presidentes da Câmara e do Senado de alguma maneira normalmente traduzem o sentimento majoritário das casas, pois o seu comando depende do apoio de uma maioria mais ou menos estável.

Temos então a seguinte situação: de um lado, o chefe do Executivo, de outro, os chefes dos outros dois poderes. Qual a real chance de que, de alguma maneira, Bolsonaro consiga empurrar a sua “solução” para o problema? Problema, convém destacar, que somente ele, dentre os três poderes, vê.

A história pode nos ser útil aqui. A deposição de Jango foi obra de dois poderes (Legislativo e Judiciário) contra o chefe do terceiro poder. Ao lado dos dois poderes havia o que chamo de “opinião pública”, representada por uma fatia representativa da classe média e do empresariado, cujo porta-voz são os grandes jornais. E, para que houvesse o enforcement da coisa, as Forças Armadas foram chamadas a atuar.

Hoje a situação, de alguma maneira, é a mesma: de um lado, o Executivo, do outro, Legislativo, Judiciário e grande parte da opinião pública, que só quer paz para trabalhar e não vê grandes problemas no sistema de apuração. Resta saber onde estão os militares. Será que, ao contrário de 1964, irão se juntar a um chefe de executivo isolado para impor uma solução aos outros dois poderes e a uma opinião pública refratária? Parece pouco provável.

Por isso, parece-me que o máximo que pode acontecer é uma versão tupiniquim da invasão ao Capitólio. Se lá já foi ridículo, imagine aqui.

O preço, esse incompreendido

O preço das mercadorias é o termômetro da doença, não a sua causa. Controlar preços não fará a doença sumir. Pelo contrário. Se a doença continuar lá, o estado do paciente somente piorará, o que demandará tratamento posterior ainda pior.

Dois exemplos apareceram nos jornais nesses dias. O primeiro foi um decreto legislativo para suspender o aumento do preço da energia elétrica no Ceará.

O segundo, uma nova peroração do presidente contra a política de preços da Petrobras, após a divulgação de seu resultado recorde no 1o trimestre.

Já passamos (acho) da fase em que pensávamos que congelar todos os preços da economia resolvia a questão da inflação. Vimos, depois de apanhar muito, que o resultado desse tipo de política é o desabastecimento e a volta da inflação muito mais virulenta posteriormente. Atacávamos a febre, não a doença.

Por algum estranho motivo, no entanto, grande parte da população ainda acha que controlar os preços dos combustíveis e da eletricidade não causará os mesmos problemas. Claro que combustíveis e eletricidade são mercadorias diferentes de arroz e automóveis. Mas a lógica empresarial é a mesma: é preciso investir antecipadamente, assumindo risco, para produzir e distribuir a mercadoria. E é neste ponto que o controle de preços atua negativamente, desestimulando novos investimentos. Vejamos os dois exemplos.

No caso dos combustíveis, a Petrobras atua em um ramo bastante instável. Agora o preço do petróleo está acima de US$ 100, mas estava em US$ 50 há um ano e chegou a bater US$ 20 no pior momento da pandemia. Que empresa consegue se planejar com essa volatilidade de preço do seu principal produto? Isso sem contar com o câmbio… Então, como qualquer empresa que produz commodities, a Petrobras precisa faturar e lucrar muito durante o tempo das vacas gordas para compensar os lucros menores dos tempos das vacas magras. Caso contrário, os investidores não estarão dispostos a financiar a atividade da empresa.

É curioso ouvir o presidente dizendo que “os gordos fundos de pensão americanos” é que estão enriquecendo com os preços praticados pela Petrobras. O presidente, como representante máximo do maior acionista da empresa, deveria era estar dando graças a Deus que ainda tem investidor disposto a correr o risco Petrobras. Isso só está acontecendo porque o governo Temer estabeleceu em lei que a empresa é obrigada a praticar preços de mercado, garantindo que os tempos das vacas gordas compensem os tempos das vacas magras. A Petrobras, hoje, poderia estar produzindo muito mais, se o governo Dilma não tivesse controlado os preços, afastando investidores e tornando a Petrobras a empresa mais endividada do planeta. Estamos pagando a conta de uma política populista de preços, que o atual presidente quer ver repetida. Quebrar o termômetro não elimina a doença.

A eletricidade é uma mercadoria completamente diferente do petróleo, mas a lógica empresarial é a mesma. As empresas assumem compromissos de décadas em troca de regras estáveis de reajuste de preços. Repito: o compromisso dessas empresas é de 20 ou 30 anos. Assinar um contrato com esse horizonte de tempo no Brasil exige muita coragem, em um país instável como o nosso, onde as regras não valem a tinta gasta para escrevê-las. A tentativa do Congresso de “congelar” os reajustes tarifários de eletricidade é somente a constatação desse fato. Não à toa, é preciso acenar com taxas de retorno atraentes para que empresas se aventurem nesses empreendimentos.

As empresas de geração, transmissão e distribuição de energia investem em infraestrutura para depois se remunerarem com as tarifas ao longo dos anos. Se essa remuneração não for suficiente, essas ou outras empresas exigirão taxas de retorno ainda maiores para fazer novos investimentos na ampliação e manutenção do parque de energia elétrica. No limite, não haverá empresas dispostas a investir, seja qual for a taxa de retorno do investimento. A mercadoria mais cara é aquela que não existe. Restarão as estatais, que investem a qualquer preço, dado que seus prejuízos são pagos pela população, não por investidores.

Se o preço dos combustíveis está nas alturas porque acompanha o preço do petróleo no mercado global, o preço da eletricidade está nas alturas porque a conta precisa carregar um monte de penduricalhos acumulados ao longo do tempo, inclusive a conta da redução ”na marra” do preço da eletricidade patrocinada pelo governo Dilma em 2013. E já temos contratados novos penduricalhos, que acompanharão a privatização da Eletrobras e pesarão sobre as contas no futuro. Além dos impostos, que representam mais de um terço do preço total. Quebrar o termômetro não elimina a doença.

Controlar preços sempre, SEMPRE, desorganiza o mercado, diminui investimentos e deixa uma conta ainda maior para o futuro. Os tão celebrados jovens deveriam usar o seu poder de voto para elegerem políticos que entendam isso. Pois a conta será paga por eles.