Jet lag eleitoral

Neste ano, tenho a impressão de que as eleições começaram a dominar o noticiário e as conversas muito mais cedo. Para testar essa hipótese, fui consultar a ocorrência da palavra “eleições” no acervo do Estadão. Os resultados são bem interessantes. A seguir, temos os números de menções da palavra “eleições” nos meses de maio e outubro de cada ano eleitoral (o primeiro número é maio, o segundo, outubro):

  • 1994: 284 / 538
  • 1998: 347 / 549
  • 2002: 558 / 1016
  • 2006: 328 / 625
  • 2010: 459 / 963
  • 2014: 335 / 759
  • 2018: 429 / 929
  • 2022: 880

Note como, de maneira geral, o número de menções dobra entre maio e outubro. Não coloquei a série inteira aqui, mas afirmo que esse aumento não ocorre linearmente. Grosso modo, o número de maio se repete até agosto, dando um salto em setembro e outubro, e voltando ao nível de maio em novembro. Ou seja, em maio, fala-se tanto de eleição quanto no período pós-eleitoral.

Mas o que realmente chama a atenção é o número de menções em maio deste ano, da mesma ordem de grandeza de outubro e muito maior que em maio nas eleições anteriores. A minha impressão de que o assunto ganhou mentes e corações muito mais cedo neste ano estava correta.

Há duas hipóteses aqui.

A primeira é que se trata de uma eleição sem precedentes, e o país será um caldeirão fervente no mês de outubro, com recorde absoluto de menções à palavra “eleições”. Se for isso, o melhor a fazer será buscar abrigo.

A segunda tem a ver com jet lag. Explico.

Desfile de escolas de samba em abril, blocos de rua em julho, Copa do Mundo em novembro. Assim como turistas com jet lag, os brasileiros estão com o seu relógio biológico desregulado. Em outros anos eleitorais, a essa altura do campeonato, estaríamos imersos em clima de Copa do Mundo, e as eleições seriam um tema de fundo, mas não dominante. Em anos normais, o assunto pega fogo mesmo a partir de agosto, com o início oficial das campanhas eleitorais. Neste ano, com o relógio biológico desregulado, o brasileiro esquentou o debate eleitoral bem antes do tempo. Isso explicaria, por exemplo, porque as pessoas acham que a fatura eleitoral está liqüidada, dado o quadro de estabilidade das pesquisas, como se já estivéssemos em setembro. Nosso relógio biológico não sacou ainda que falta uma eternidade (em termos eleitorais) até o dia 02/10.

Se isso for verdade, teremos uma espécie de “fadiga de material”, e é até possível que tenhamos uma estabilidade ou mesmo redução do interesse eleitoral até outubro. Afinal, ninguém consegue manter esse nível de stress por tanto tempo.

Tendo a achar a segunda hipótese mais provável, dado que cada eleição é “especial” à sua maneira, e essa não foge à regra. De qualquer modo, vamos conferir em novembro.

Qual a sua hipótese preferida? Você tem uma terceira hipótese?

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