Os frutos da reforma trabalhista

O Caged (dados de emprego com carteira assinada) de julho acabou de ser anunciado. Foram 218 mil novas vagas criadas, elevando o total do ano a 1,59 milhões de empregos criados. Neste mesmo período do ano passado, haviam sido criadas 1,85 milhões de vagas. Portanto, até julho, tivemos uma queda de 15% na velocidade de criação de vagas. Considerando, conservadoramente, que teremos um decréscimo de 20% no número de vagas criadas neste ano em relação ao ano passado, 2022 fecharia com 2,3 milhões de vagas criadas, um resultado maior do que os 2,1 milhões de vagas de 2010, quando o PIB cresceu 7,5%. Esse resultado me chamou a atenção e está no gráfico 1 abaixo. Podemos observar que 2021 e 2022 têm os melhores resultados do Caged desde o início da série histórica.

Claro, é preciso tomar cuidado com números absolutos. A população economicamente ativa (PEA) aumenta ao longo dos anos, cada vaga criada hoje representa menos para o emprego geral do que há 10 ou 20 anos. O gráfico 2 corrige esta distorção, ao dividir o número do Caged pela PEA.

Nesta medida, o número de vagas de 2021 continua sendo recorde, mas o de 2022 fica um pouco abaixo do de 2010. Apesar disso, o número continua chamando a atenção, pois o PIB cresceu 7,5% em 2010, enquanto cresceu 4,6% em 2021 e deve crescer algo como 2,5% este ano. Ou seja, em proporção ao PIB, foram criadas muito mais vagas nestes últimos dois anos do que no passado. É o que podemos observar nos gráficos 3 e 4.

No gráfico 3 temos a criação de vagas nas barras azuis e o crescimento do PIB, nos mesmos anos, nas bolinhas brancas. Observe como, mesmo em 2020, quando tivemos um queda do PIB equivalente ao ocorrido no biênio 2015-2016, a criação de empregos foi muito maior do que naqueles dois anos.

No gráfico 4, mostramos a correlação entre os números do Caged e o crescimento do PIB. Os pontos acima da reta de regressão representam criação de empregos acima da tendência dos últimos 20 anos. Observe como 4 pontos se destacam, sendo 3 deles justamente os anos de 2020, 2021 e 2022.

A recessão da pandemia poderia explicar uma parte desse fenômeno. Em 2009, ano da recessão que se seguiu à crise do subprime, o número de empregos criados foi bem maior do que a tendência. Isso se explicaria pela rigidez do mercado de trabalho, então a destruição de empregos não ocorreria na mesma velocidade da queda do PIB. No entanto, por algum motivo isso não valeu para o biênio 2015-16. E, principalmente, não explica os pontos de 2021 e 2022.

Na minha opinião, a explicação mais plausível é o advento da reforma trabalhista, que ajudou na formalização do mercado de trabalho. Lembremos que o Caged representa somente empregos com carteira assinada. Ao facilitar a formalização, a reforma de Temer mudou a correlação entre PIB e criação de vagas. Ou seja, o PIB já não precisa crescer tanto quanto antigamente para que tenhamos um bom volume de criação de vagas formais. Aparentemente, esse fenômeno começa em 2020, talvez porque os empregadores e o judiciário levaram algum tempo depois da aprovação da reforma, em 2017, para se acomodarem às novas regras.

Enfim, estamos agora colhendo os frutos de uma reforma aprovada 5 anos atrás. É assim que a economia funciona, os governos seguintes colhem o que os anteriores plantaram. Só espero que essa conquista dos trabalhadores brasileiros não seja desmontada por um novo governo com ideias erradas sobre o funcionamento da economia.

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