Reportagem sobre a cada vez mais onipresente Shein, que já ultrapassou a Amazon em número de downloads nos EUA. A matéria começa com a descrição de um verdadeiro “assalto” a uma loja da Shein no Texas, que me lembrou a liquidação anual da Magazine Luiza (ainda existe isso?)
Mas, claro, grande parte da matéria se dedica às “polêmicas” que cercam a loja chinesa: “remuneração justa”, “preservação do meio-ambiente”, “incentivo ao consumismo que degrada o planeta”.
No entanto, apesar de tudo isso, a Shein é um fenômeno. E é um fenômeno justamente junto àquela geração que, nos convenceram, está mais preocupada com o meio-ambiente, a geração Greta, aquela que vai mudar o mundo.
Esta aparente contradição, no entanto, pode ser facilmente explicada. O ponto é que a clivagem a respeito da pauta ambiental não é de idade, mas de renda. Somente as classes A e B, que já têm as suas necessidades de consumo mais ou menos resolvidas e podem gastar um pouco mais em “consumo consciente”, podem se dar ao luxo de se preocuparem com o meio-ambiente. Da classe C para baixo, que se preocupa em sobreviver, consumo consciente significa gastar o mínimo possível para morar, comer e se vestir. Qualquer que seja a idade. Para esse público, empresas como a Shein são uma benção.
Claro que os executivos da Shein são espertos. Ao longo da reportagem, são citados comunicados da empresa que fazem chegar ao grande público a preocupação da Shein com eventuais “desvios de conduta”. Como se fosse possível vender os produtos que vende pelo preço que vende sem atuar na fronteira do aceitável, ambiental e socialmente falando. Mas colocar-se como uma empresa “preocupada” não custa nada, a não ser alguns comunicados, que servem para deixar seus clientes com a consciência tranquila.
O incrível sucesso da Shein é prova cabal de que a preocupação com a sustentabilidade passa longe da maioria das pessoas, que simplesmente buscam os melhores produtos pelos menores preços. Achar que as empresas ou os governos podem liderar uma cruzada pela sustentabilidade sem considerar o consumidor na equação é auto-iludir-se.