Eu tenho uma esteira ergométrica com defeito. Ela funciona normalmente, mas o visor não marca a velocidade corretamente. Geralmente, eu caminho a 6 km/h, mas o visor marca 4,5 km/h quando eu ando em minha velocidade de cruzeiro. Vou jogar fora a esteira por causa disso? Claro que não. O visor não deixa de ser útil, mesmo marcando errado. Basta saber que há um erro e adotar um “coeficiente de correção”. Assim, quando a velocidade está em 4,5, sei que cheguei a 6,0 km/h. E vida que segue.
Um medidor é bom quando acerta, mas também é bom quando erra de maneira não aleatória. Um medidor que sempre erra para cima ou para baixo de maneira constante é tão bom quanto um medidor que acerta, pois sabemos, uma vez conhecido o erro, quanto devemos corrigir a leitura para chegar na medida correta.
Nesse sentido, as pesquisas do IPEC são úteis. Dado que os seus erros não foram aleatórios na maioria das vezes, basta corrigir o seu resultado para chegar em uma medida mais próxima da realidade. Por exemplo, na véspera do 1o turno, o instituto indicava 14 pontos de diferença entre Lula e Bolsonaro. Como sabemos, a diferença foi de 5 pontos.
Assim, usando uma regrinha de três simples, se a diferença medida pelo mesmo instituto está agora em 9 pontos, podemos estimar a real diferença como algo em torno de 3 a 4 pontos. Aliás, é essa diferença que vem sendo apontada por outros institutos que se aproximaram melhor do resultado final do que o IPEC.
Por fim, há jornalistas, como Maria Cristina Fernandes, do Valor, para quem o erro do IPEC não existiu. Continua analisando os números como se nada tivesse acontecido. O IPEC, assim como o DataFolha, são o “padrão ouro” das pesquisas, e se a medição não bate com a realidade, dane-se a realidade. Seria cômico se não fosse ridículo.