Bom dia, amigos! Pousei ontem depois de duas semanas de férias no Japão (um post a respeito da viagem está a caminho!). Hoje, depois de uma noite de sono reparador e recuperado de dois voos intercontinentais seguidos e 12 horas de diferença de fuso, volto para falar daquilo que interessa.
O Estadão está, hoje, lamuriento. Sua manchete chama a atenção para a polarização que tomou conta do país, seu editorial clama por um “pacificador” e entrevista do cientista político Bolívar Lamounier, tucano clássico, transpira pessimismo por todos os poros em relação à capacidade do próximo presidente de “unir” o país.
Vou falar o óbvio: só existem duas opções, e vivemos em um sistema político em que “the winner takes all”. Ou seja, literalmente metade do país será governado por alguém visto como intragável. Aliás, mais da metade, se considerados os votos nulos e as abstenções. Este é o sistema em que vivemos e a única “solução” seria uma guerra civil seguida pela secessão do país.
Qualquer dos dois candidatos disponíveis não será capaz de unir o país. Em primeiro lugar, porque ambos vivem da demonização do outro. E, em segundo lugar, porque essa é uma utopia que não ocorre em nenhuma democracia. Unanimidade em torno de um projeto político somente é possível em regimes autoritários, em que o lado discordante é calado. Portanto, vamos deixar de lado as utopias e lidar com a realidade mais rasteira: Bolsonaro ou Lula será o nosso presidente nos próximos 4 anos, em um ambiente beligerante, em que o outro lado não deixará de fazer oposição feroz.
Uma pequena digressão antes de continuarmos. Ontem pousei em Guarulhos às 6 da manhã e, antes de voltar para casa, passamos por uma padaria famosa aqui em São Paulo para tomar um café. Foi triste. O serviço foi péssimo. O despreparo da mão de obra era evidente. Havia muitos empregados fazendo o serviço que poderia ser feito por muitos menos se houvesse mais eficiência. Estava clara ali a tragédia nacional. Eu estava vindo de um país com renda per capita 3 vezes maior do que a do Brasil. Isso significa que cada japonês consegue produzir 3 vezes mais do que cada brasileiro. Ou, de outra forma, cada japonês faz o serviço de 3 brasileiros. Na padaria japonesa, se existisse, seriam necessários 3 vezes menos funcionários para oferecer o mesmo nível de serviço. Isso acontece porque a mão de obra é muito melhor preparada, além de serem disponíveis meios de produção e de administração mais eficientes. PIB per capita não é apenas uma medida de riqueza, mas antes e principalmente, trata-se de eficiência. Eficiência que se traduz, no final do dia, em mais riqueza para todos.
Tendo sentido na pele o que significa viver em um país de renda média, não pude deixar de pensar o que nos oferecem os dois candidatos em relação ao aumento da eficiência. Não estou aqui falando de corrupção, empatia, pendores democráticos. Refiro-me especificamente à capacidade de ambos os candidatos de levar o país para o próximo nível em termos econômicos.
Dos dois candidatos, Bolsonaro representa um projeto econômico mais próximo daquilo que acredito estar na direção correta. As limitações do atual presidente são evidentes, não preciso gastar verbo aqui para descrevê-las. O presidente e as atuais lideranças do Congresso fizeram todo o necessário para sabotar a credibilidade da única regra fiscal que temos, o ministro da fazenda prefere a CPMF a uma reforma tributária ampla e as constantes mudanças na direção da Petrobras certamente não contribuíram para o ambiente econômico. Trata-se, afinal, de um populista, e não dá para esperar muito de um populista.
No entanto, por mais deletérias que tenham sido suas intervenções na economia, há uma diferença fundamental de natureza em relação ao ideário do PT, que nos legou a maior recessão da história do Brasil. Minha série sobre a economia na era PT faz uma autópsia desse tempo, e as manifestações de Lula a respeito indicam que nada aprenderam. Portanto, podemos esperar que tentem mais forte, usando todos os instrumentos disponíveis para intervir na atividade econômica, com os resultados conhecidos.
Por isso, meu voto vai para Bolsonaro, com a consciência de que está longe de ser o ideal. Reconheço que considerações de outras naturezas que não a econômica podem levar ao voto no candidato do PT, e respeito a escolha de cada um de acordo com a sua própria visão de mundo, assim como espero que respeitem a minha. Respeito mútuo, mais do que uma utópica concordância em torno de um projeto único, talvez seja o que esteja mais faltando em nosso país.
Este voto, obviamente, não me tirará o direito de criticar um próximo governo Bolsonaro, se eleito, em todos os seus aspectos criticáveis, como sempre fiz por aqui. Afinal, não é o voto que define o direito à crítica, mas o simples fato de ser cidadão.