O presidente do Chile teve uma excelente ideia: além dos trabalhadores contribuírem para a sua própria aposentadoria, as empresas também serão chamadas a aportar uma contribuição para os seus empregados.
Boric certamente não conversou com Dilma Rousseff, ex-presidente do mesmo espectro político, que introduziu a desoneração da folha de pagamento de setores escolhidos, justamente porque a carga tributária sobre a folha de pagamento estava minando a capacidade de geração de empregos formais. Essa desoneração vem sendo renovada desde então e, provavelmente, continuará sendo pelos séculos sem fim.
As aposentadorias no Chile são muito baixas, dizem. Eu diria que as aposentadorias no Chile são proporcionais à contribuição dos trabalhadores. Não tem mágica: para aumentar o valor das aposentadorias precisa aumentar as contribuições. Boric teve uma brilhante ideia para atingir esse objetivo, ideia esta que já foi abandonada pelo governo brasileiro.
Como o Estado brasileiro “resolveu” o problema das aposentadorias? Simples: enfiamos a cabeça na terra e fazemos de conta que o INSS é sustentável ao longo do tempo. Ano após ano, cobrimos os déficits com receitas vindas de outros fatos geradores. Ou seja, subsidiamos as aposentadorias com outros tributos e com o aumento da dívida pública. No final do processo, quando essas duas fontes de recursos secarem, sempre teremos a inflação para queimar o valor das aposentadorias. Vivemos em um mundo de faz-de-conta, em que os trabalhadores têm a ilusão de que podem se aposentar com pequenas contribuições.
Os protestos no Chile em 2019 tiveram como origem, em grande parte, a insatisfação com o valor das aposentadorias. Boric foi eleito com a promessa de “resolver” o problema. Na aparência, o problema estará resolvido. Na realidade, o Chile resolveu enfiar a cabeça na terra, como nós fazemos por aqui.