Se o PT não quer, deve ser bom

Via de regra, CPIs são instrumentos da oposição para fustigar o governo de turno. Por isso, o número de assinaturas necessárias para a sua instauração é de apenas 1/3 dos congressistas.

No caso, a “CPI dos atos democráticos” seria uma exceção, pois seu objeto seria o governo já findo e seus bate-paus. Por algum motivo, no entanto, o atual governo, apesar de não ser o objeto da CPI, está desencorajando a sua instalação.

Pode compreender-se esse movimento pelo seu lado virtuoso: afinal, CPIs costumam consumir muita energia do Congresso, e o governo precisa de foco do parlamento para aprovar o que quer que seja. Uma CPI deste tipo pode até gerar dividendos políticos para o governo, mas nada muito além daquilo que toda a cobertura da imprensa e a condenação da opinião pública já não lhe tenham oferecido de bandeja.

Mas há o lado, digamos, do mal. Dizem que uma CPI, você sabe como começa mas não sabe como termina. De repente, alguém descobre alguma coisa não muito ortodoxa de alguém ligado ao governo e pronto, está feito o estrago. Além disso, uma CPI não é formada somente por governistas, e pode servir de palco para os apoiadores do ex-presidente que, hoje, estão na berlinda.

Por isso, entende-se o esforço de Lula e do PT de matar a ideia de uma CPI dos “atos antidemocráticos” na raiz. Mas não deixa de ser paradoxal que o partido que patrocina CPIs sobre as coisas mais intranscendentes, deixe passar a oportunidade de investigar melhor um dos acontecimentos mais chocantes da nossa República nos últimos anos.

Se eu sou bolsonarista, iria brigar para instalar essa CPI. Se o PT não quer, deve ser boa.

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