Todo dia pela manhã, caminho por cerca de uma hora pelo bairro do Jardim Europa, o mais rico de São Paulo. Não é incomum ser parado na rua por alguém pedindo informações. Hoje foram duas vezes.
Na primeira, um pedreiro mostrou-me um endereço em seu celular e perguntou-me como chegar naquela rua. Como sempre faço nessas ocasiões, saquei do meu próprio celular, coloquei o endereço no Google Maps e orientei o senhor da melhor maneira que pude. Na segunda, um rapaz alto, de chinelos, simplesmente me perguntou, quase sem parar de caminhar: “Posto Ipiranga?”. Parei, sem entender direito o que ele queria dizer com aquilo (seria uma viúva do Guedes?), e então ele voltou à carga: “o posto Ipiranga é para esse lado?”. Não conhecia nenhum posto Ipiranga na região, não tinha como ajudá-lo, simplesmente dei de ombros e segui meu caminho.
Normalmente, os que me param na rua são, provavelmente, faxineiras e pedreiros que vão começar serviços em casas novas no bairro. Muitos (a maioria), me mostram o endereço em um pedaço de papel ou no celular, uma clara demonstração de que sequer sabem ler, quanto mais usar o Google Maps para se orientar. Esta limitação não os impede de trabalhar e batalhar por seu pão, mas é difícil imaginar como poderiam sair do seu estado de pobreza, dado que seu único instrumento de trabalho é a força de seus braços.
Desde o “tudo pelo social” de Sarney, passando pelo enfoque no social dado pelos governos tucanos e petistas, até a “Pátria Educadora” do governo Dilma, o discurso tem sido o da inclusão de todos pela educação. Talvez essas pessoas que me param no bairro mais rico da cidade sejam de gerações passadas, que não foram atingidas pelas ações sociais dos governos da Nova República. Houve avanços inegáveis neste período, como a inclusão de todas as crianças na escola e o aumento dos anos de escolaridade. É muito, mas ainda é pouco.
Escrevo ainda impactado pela imagem do jovem que só conseguia balbuciar “posto Ipiranga”. Qual o seu futuro possível? “Educação” é um mantra entoado por qualquer governo. A baixíssima produtividade da mão de obra brasileira é a prova cabal de que se trata de um discurso vazio.