Trecho da coluna de Lourival Sant’Anna sobre a visita de Fernández a Lula (lembre-se, não foi da Argentina ao Brasil) narra as dificuldades de se chegar a uma “equação” que permita financiar os argentinos sem correr o risco Argentina. Trata-se de encontrar a quadratura do círculo. Nem a solução de sempre, a China, sempre disposta a ajudar generosamente os países vítimas do imperialismo, parece disponível no momento. Com a China, só na base do escambo.
A propósito, reportagem da Bloomberg nessa semana aborda justamente esse ponto. Em uma conferência internacional, a presidente do FMI, a búlgara Kristalina Georgieva, dá a entender que a China estaria mudando a sua postura em relação aos países que não podem pagar os seus empréstimos. Segundo Georgieva, os chineses estariam mais dispostos a “negociar”, o que pressupõe que os chineses não estão tendo a mesma boa vontade do FMI. Países como a Zâmbia, em que 75% da dívida é com os chineses, estão com a faca chinesa no pescoço.
O FMI foi criado, ente outras coisas, para ajudar na estabilização financeira de países que passam por dificuldades. A ideia é emprestar dinheiro e ajudar na implementação de medidas saneadoras. Se um país particular fizesse isso (por exemplo, EUA ou China), poderia ser acusado de ingerência sobre os assuntos internos de outro país, além das resistências políticas domésticas, em países democráticos, a iniciativas desse tipo. O FMI, representando o conjunto dos países, tem essa missão e legitimidade. Além disso, cabe destacar, o FMI não age sem um convite formal do país a ser ajudado.
A China, por razões geopolíticas, emprestou dinheiro como se não houvesse amanhã para uma série de países, principalmente na África, e agora está descobrindo que as elites desses países pegaram o dinheiro e se empirulitaram, como diria o Didi. A China não tem vocação para FMI e, portanto, não tem ânimo de negociação. O que Georgieva está dizendo, em sua linguagem diplomática, é que é bem mais fácil negociar com o FMI do que com a China. Talvez Lula pudesse bater um papo com seu novo amigo, Xi Jinping, sobre facas no pescoço.