O Itaú fez publicar uma propaganda em que seleções femininas de futebol criadas por IA aparecem nos anos seguintes aos das conquistas da Copa do Mundo pela seleção masculina. Na última página, a informação: o futebol feminino foi proibido no Brasil por 40 anos, razão pela qual aquelas seleções não existiram. Os anúncios querem sugerir que, não fosse proibido no Brasil, as mulheres brasileiras teriam conquistas tão grandes quanto os homens no esporte. A proibição teria feito com que perdêssemos o bonde da história, com outros países avançando enquanto as brasileiras estavam condenadas a ficar em casa fazendo crochê. Comovente, mas falso.
O decreto-lei de 1941 que proibiu a prática de esportes “incompatíveis com a condição feminina” estava em linha com a prática global. A Inglaterra, por exemplo, baniu o futebol feminino em 1921, levantando a proibição somente em 1971. E não estava sozinha, essa era a norma. Os EUA não chegaram a proibir o esporte, mas o comportamento social da época fez com que o futebol feminino decolasse naquele país somente na década de 70.
O primeiro torneio feminino de futebol patrocinado pela FIFA ocorreu somente em 1988, e a primeira Copa do Mundo em 1991. O esporte debutou nas Olimpíadas somente em 1996. Em resumo, mesmo que o esporte não tivesse sido proibido no Brasil, não haveria copas de 1959, 1963 e 1971. Aliás, naquele primeiro torneio de 1988, o Brasil ficou em terceiro lugar, o que demonstra que o período de banimento não fez a seleção brasileira ficar muito atrás de outros países.
Claro, isso não tira o mérito de fundo da campanha. As mulheres no mundo inteiro ficaram para trás no futebol, e só começaram a conseguir seu lugar ao sol depois da revolução de costumes do final da década de 60. Mas, e este é o ponto, não se trata de algo devido exclusivamente ao machismo brasileiro. Aliás, não deixa de ser irônico que o banimento tenha sido decretado pelo queridinho das esquerdas progressistas, Getúlio Vargas, enquanto o levantamento da proibição tenha se dado em 1979, durante o governo ditadorial de João Figueiredo. O que demonstra que, por vezes, nada é o que parece ser.