Jantar cego

No dia dos pais, ganhei de meus filhos um voucher para participar de uma experiência inusitada: um “jantar cego”. Ontem foi o dia do jantar, e vou contar aqui a minha experiência.

O Jantar Cego ocorre em um espaço de eventos especificamente preparado para isso. Você e os outros comensais são levados para uma sala 100% sem luz, e os pratos são servidos por garçons cegos, que se revesam entre servir os pratos e cantar músicas ao vivo.

Para começar, uma vez sentado, você precisa se localizar. Muito delicadamente, você vai apalpando o espaço em sua frente, que já tem o prato do couvert colocado, para encontrar os talheres, o copo com água e a taça de vinho. Obviamente, precisa ser com muito cuidado para não derrubar nada. Na primeira apalpada eu já meti o dedo em um dos canapés no prato à frente.

O jantar contou com couvert, entrada, prato principal e sobremesa, com vinho ou suco, a depender da preferência, que precisa ser definida na compra do voucher, assim como qualquer restrição alimentar. Por isso, o comensal recebe um número de lugar como em um cinema, para que não haja troca de prato.

O couvert e a entrada já estavam na mesa, o prato principal e a sobremesa foram trazidos pelo garçom, assim como a segunda taça de vinho. Nesse caso, o garçom se colocava atrás, dizendo em que lado estava, e cuidadosamente o comensal precisa pegar o prato e colocar sobre o prato vazio à sua frente.

O ambiente é bem animado, com música gravada e ao vivo, e todos os comensais conversando e cantando, além de comer, claro.

Minha principal conclusão dessa experiência: comemos com os olhos. É completamente diferente comer sem ver o prato. Claro, o sabor é o mesmo, e não deixa de ser uma experiência interessante tentar adivinhar o que se está comendo, em uma espécie de “blind test”. Mas o prazer de comer é muito menor. Concluí que grande parte do prazer de comer é anterior ao próprio ato de comer. Nunca a expressão “comer com os olhos” fez tanto sentido para mim. Não é à toa que os chefs capricham tanto na estética do prato. Acho que isso representa uns 75% do prazer da refeição. Só quando não se vê o prato é que se entende isso. É claro que as pessoas com deficiência visual devem desenvolver outros mecanismos de prazer, que substituem o visual.

E outro ponto digno de nota foi ver a alegria das pessoas com deficiência visual, na reunião após a refeição, aí já fora do salão escuro. Trata-se de um emprego em que eles têm a oportunidade de, a um só tempo, ganhar o seu sustento e aumentar a percepção das pessoas para a sua deficiência. Foi muito gratificante participar desse momento.

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