Milei anunciou suas primeiras medidas para tentar conter a crise econômica (leia-se inflação e falta de dólares) da Argentina. No geral, todas na direção correta. Se serão suficientes ou mais será necessário, o tempo dirá. Duas me chamaram especialmente a atenção:
1) Milei cortou o número de ministérios de 18 para 9. Ou seja, o governo kirshenirista de Alberto Fernandez tinha apenas 18 ministérios. O governo Bolsonaro terminou com 23 ministérios, enquanto o governo Lula tem, atualmente, 38 ministérios. Se o ministério da Segurança Pública for recriado, serão 39 ministérios, igualando o recorde do segundo governo Dilma. De verdade, o número de ministérios pouco importa. Tendo ou não um ministério para chamar de seu, o que realmente importa é o número de funcionários públicos contratados. Bolsonaro juntou 4 ministérios no superministério da Economia, mas todas as funções continuaram lá. Cortar ministérios pode ter um apelo simbólico, mas seu efeito no ajuste fiscal é marginal.
2) O dólar oficial foi reajustado para 800 pesos, representando uma desvalorização de 50% do peso em relação à moeda norte-americana. O problema dessa medida é a sua natureza: o governo continua tabelando a moeda. Quem disse que 800 é o preço correto para o dólar? O blue está acima de 1.000 pesos, o que significa que, mesmo após a desvalorização, a moeda continua sendo negociada com ágio no mercado livre. O correto seria adotar o câmbio flutuante, com o mercado ditando o preço da moeda. Esta havia sido a primeira medida (correta) de Maurício Macri, e não entendo porque não foi adotada por Milei. Quer dizer, até entendo: aparentemente, Milei está com medo dos efeitos inflacionários da desvalorização. Mas não será com meias medidas que o problema da Argentina será resolvido.
Em resumo: 1) o ajuste fiscal está na direção correta, mas é preciso saber se será suficiente e 2) o câmbio continua errado. São só os primeiros dias, vamos ver como a coisa evolui.