Corrupção sempre será corrupção

O PT fez muito mal ao Brasil durante a sua longa passagem pelo governo federal. Difícil eleger o pior, mas certamente um dos maiores males foi mudar o patamar da corrupção. O Petrolão transformou em escala industrial o que era feito de maneira artesanal. A Petrobras realizou uma baixa contábil de R$ 6 bilhões por conta de contratos superfaturados. Isso fora o dinheiro devolvido por delatores, que somaram mais de um bilhão. Só o gerente Pedro Barusco devolveu quase R$ 200 milhões!

O problema dessas cifras, e esse foi o mal que o PT fez ao Brasil, além da corrupção em si, faz esses casos denunciados recentemente parecerem coisa normal. Lendo a coluna de Felipe Moura Brasil, podemos ficar tentados a nos perguntar se é sério que devemos nos preocupar por desvios de alguns milhões de reais. Afinal, esse é o Brasil de sempre, voltamos ao normal.

Os desmandos do PT curtiram a pele nacional, e agora não sentimos mais a gravidade da corrupção. E não deveria ser assim. Em primeiro lugar porque corrupção é corrupção, independentemente se tratamos de milhares, milhões ou bilhões. Trata-se apenas de oportunidade, não de caráter. O cara que rouba milhões vai roubar bilhões se tiver oportunidade.

Mas, no caso em tela, a coisa é ainda pior. O PT foi acusado, com razão, de transformar o Estado brasileiro em um balcão de negócios para sustentar o seu projeto de poder, ferindo de morte a democracia. O que faz o governo Bolsonaro senão a mesma coisa? A exemplo do PT, seu apoio político e seu projeto de poder são comprados na base da corrupção. A única diferença, ao que se saiba até o momento, é que, ao contrário do PT, Bolsonaro, ele mesmo, não desviou dinheiro para si próprio. Mas o efeito sobre o processo democrático de exercício de poder é o mesmo que do Mensalão e do Petrolão, e não são três zeros a menos que mudam a natureza da coisa.

Lembro quando, no início do governo Bolsonaro, eu defendia aqui que não existe “governo do povo” em democracia representativa, e que Bolsonaro, que havia sido eleito sem qualquer coligação e com base de pouco mais de 10% dos deputados, deveria se dedicar a montar uma base no Congresso. Recebia como resposta “aqui não tem toma lá dá cá!”, ou “o presidente vai governar com a força das ruas!”. Hoje Bolsonaro governa na base do “toma lá dá cá”, enquanto as “ruas” de Bolsonaro estão mais preocupadas com o STF.

Continuo pensando da mesma forma que quatro anos atrás: não existe solução fora da política, que supõe compartilhamento de espaços de poder. A corrupção como meio de fazer política é uma doença brasileira, que os bolsonaristas davam como curada há quatro anos e hoje preferem olhar para o outro lado. Se tem algo que Bolsonaro involuntariamente provou é que essa doença brasileira não se cura na base de voluntarismos heróicos. Na verdade, não existe cura definitiva, mas creio que um presidente que saiba fazer política pode tornar o problema administrável. Eu, tal qual Diógenes, continuo à procura de um homem com minha lanterna acesa durante o dia. Este homem, certamente, não é Lula nem tampouco Bolsonaro.

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