O SUS é um gigantesco plano de saúde, em que seus beneficiários não pagam nada. Este plano é formado por hospitais próprios (públicos) e terceirizados (particulares). A notícia de que o A C Camargo vai deixar de atender pacientes do SUS é equivalente a dizer que o SUS vai descredenciar o hospital de sua rede. Fosse um plano privado, os beneficiários estariam se mobilizando para manter o credenciamento. Ou, em outras palavras, obrigar o plano de saúde a pagar o que o hospital está exigindo. Sendo o SUS público a ação é contra o Leviatã, o Estado brasileiro. Boa sorte aos beneficiários.
Saúde não tem preço, mas custa muito caro. Agora mesmo o Congresso acabou de aprovar um piso nacional para os salários de enfermeiros. Nada contra esses profissionais, certamente merecem ganhar mais do que ganham, mas este é mais um custo para o sistema, que deverá ser coberto pelas mensalidades dos planos de saúde e pelas verbas do SUS. Sim amigos, o dinheiro sempre sai de algum lugar.
O SUS nasceu como uma promessa de saúde de primeira para todos os brasileiros. No entanto, a primeira coisa que um brasileirinho faz quando começa a ganhar algum dinheiro é gastá-lo em um plano de saúde privado. 25% dos nacionais fazem isso, principalmente dentre aqueles que povoaram as redes com a hashtag #VivaoSUS durante a pandemia. O SUS é bom pra tomar vacina de graça e olhe lá.
O orçamento do Ministério da Saúde é de R$ 153 bilhões este ano, o que resulta em R$ 80 por mês por brasileiro que não tem plano de saúde. Qualquer plano de saúde privado mequetrefe custa, pelo menos, 5 vezes mais do que isso. Ou, de outro modo, para termos um plano de saúde estatal no mesmo nível do mais mambembe plano de saúde privado, precisaríamos investir R$ 600 bilhões a mais por ano, o que significaria aumentar os gastos públicos federais em 40%. Isso, considerando eficiência privada na gestão dos recursos estatais, o que está longe de ser garantido.
Acho que ninguém é “contra o SUS” como ideia abstrata. Seria lindo ter assistência médica de boa qualidade para todos. A hashtag #VivaoSUS é a expressão desse desejo e, ao mesmo tempo, uma palavra de ordem contra todos os desalmados que não querem que pobre tenha saúde de qualidade. O único problema é que se trata, no mínimo, de um auto-engano. Ou, em alguns casos, de hipocrisia mesmo.