Eugênio Bucci, claro, é mais um, ao lado de Flávio Dino e Alexandre de Moraes, que acha que o Google não deveria ter voz no debate nacional em temas que lhe afetam. Por que? Bucci lista dois motivos: porque o Google não é brasileiro e porque o Google é um “monopolista bilionário”.
Comecemos com o primeiro ponto. Nesse caso, a Anfavea, por exemplo, formada apenas por montadoras estrangeiras, deveria se abster de opinar em leis que lhe afetam. Sabemos que não é bem assim que a banda toca. O fato é que multinacionais, no momento que estão operando em território brasileiro, prestando serviços a brasileiros e empregando funcionários brasileiros, deveriam ter sim o direito de opinar sobre legislações que lhes afetam. Trata-se, aqui, de uma xenofobia oportunista: traga o seu dinheiro mas fique quieto.
O segundo ponto é a falácia do “poder econômico”. O Google, por acaso, usou os seus bilhões para comprar deputados? Se não, qual exatamente a relação entre os bilhões do Google e sua opinião, colocada em sua página como o seu ponto de vista sobre o assunto? Dizem que o Google privilegiou resultados de busca favoráveis à sua posição em sua primeira página, e isso configuraria abuso de poder econômico. Verdade, se isso for provado. Mas Dino, Moraes e Bucci se insurgiram foi contra o tal link com opinião na capa do Google, é sobre isso que estamos falando. E isso, desculpem-me esses democratas de fachada, faz parte do debate público.
Na verdade, Bucci está exercendo o seu “jus esperneandi”, pois o projeto, da forma como está, não tem votos no Parlamento. Acusar o Google de “conduzir” o debate é infantilizar a opinião pública e os deputados, que não conseguiriam pensar por conta própria e estariam dispostos a assumir a opinião de quem tem mais “poder”, pelo simples fato de ter mais poder. Esse debate sobre o PL das fake news virou praça de guerra justamente porque quiseram enfiá-lo goela abaixo como se fosse uma luta entre o bem de quem “está preocupado com as crianças” contra o mal representado por multinacionais bilionárias e bolsonaristas golpistas. Com esse tipo de simplificação, uma opinião contrária como a do Google realmente incomoda àqueles para quem democracia é somente mais uma palavra bonita.