Quando eu era um “jovem adulto”, o medo do fim do mundo estava ligado a uma potencial guerra nuclear. O filme The Day After, de 1983, impressionou-me profundamente, a ponto de sentir uma certa ansiedade a respeito. Na época não costumavam dar nomes pra essas coisas, mas seria uma espécie de “bombanxiety”.
Ontem assisti ao Oppenheimer, que trata justamente desse tema. Mas, arrisco dizer, o filme chegou com uns 40 anos de atraso. A cena final, com os foguetes levando ogivas nucleares, já não causa comoção. A possibilidade de uma guerra nuclear já não dispara mecanismos de ansiedade na juventude. Hoje, as mudanças climáticas assumiram o lugar de porta do inferno.
A boa notícia é que, ao contrário da hecatombe nuclear, que dependia da decisão de governantes, a reversão das mudanças climáticas está em nossas mãos, inclusive dos jovens. Para evitar a catástrofe, basta que, digamos, os 20% mais ricos do planeta diminuam seu consumo em, digamos, 20%. Como os 20% mais ricos devem representar algo como 80% do consumo do planeta, teríamos uma redução de consumo de energia da ordem de 16%. Acho que seria o suficiente para reverter, ou pelo menos atrasar, as mudanças climáticas.
Ah sim, essa sugestão vai contra a percepção comum de que a “solução” para as mudanças climáticas estaria nas mãos dos governos, assim como eliminar os mísseis nucleares. Isso tem um fundo de verdade, na medida em que os governos têm a capacidade de coordenação necessária para induzir a redução de consumo sugerida acima. O único problema é que esse tipo de indução costuma ser pouco popular. Que governo democrático faria isso? Muito melhor vender a ideia de que são petrolíferas as culpadas pelas mudanças climáticas.
O fato é que ninguém quer dar a má notícia: não temos, hoje, tecnologia para manter o atual nível de consumo sem emitir gases de efeito estufa. Fontes de origem limpa são agregadas todos os anos, mas são suficientes somente para, mal e mal, fazer frente ao aumento marginal do consumo. Seria ainda pior sem essas fontes, mas está longe de resolver o problema.
Então, a única saída é diminuir drasticamente o consumo de tudo, com os mais ricos puxando a fila. Quem sabe se os jovens tivessem consciência de que a reversão das mudanças climáticas está em suas mãos, bastando andar menos de carro e comprar menos roupas, a ecoansiedade não desaparecesse?