Não assisti ao jogo hoje de manhã. Ao contrário dos funcionários públicos, não pude contar com um ponto facultativo para acompanhar nossas meninas na Austrália. Mas não deixei de enviar minhas energias positivas que, como vimos, não foram suficientes para cavar uma vaga nas oitavas da Copa.
Não assisti ao jogo, mas tive acesso às estatísticas: a seleção canarinha teve nada menos do que 73% de posse de bola, finalizou 18 vezes (14 de dentro da área, 8 na direção do gol) contra apenas 3 das jamaicanas (zero na direção do gol), teve 6 escanteios contra zero da adversária, e nossa goleira não precisou sujar o uniforme para fazer uma única defesa sequer durante o jogo inteiro. Ou seja, foi um jogo de um time só, mas, mesmo assim, não fomos capazes de anotar um mísero golzinho.
A técnica Pia, que foi massacrada pela Milly Lacombe por ter colocado Marta somente nos 5 minutos finais no jogo contra a França e, ainda assim, misturada com outras duas plebeias em uma substituição tripla, não se fez de rogada: escalou a rainha desde o início do jogo. “Vai, brilha!”, deve ter dito a sueca com nome de portuguesa. Marta deu 2 dos 18 chutes a gol da seleção e zero passes para finalizações. E foi isso.
Quando vi ontem Marta aos prantos dando uma entrevista, comentei com os amigos: “vamos perder amanhã”. Essa era fácil. Lágrimas nunca combinaram com vitória. Lágrimas demonstram um estado psicológico frágil, e o esporte competitivo exige um psicológico muito forte. Que o digam os chorões da Copa de 2014. – Ah, mas então não pode chorar? Pode, claro. Mas depois de ganhar, não antes.
Não sei como a coisa está em outros países, mas aqui no Brasil o futebol feminino extrapolou o esporte e tornou-se uma espécie de manifesto feminista. As jogadoras não estão ali só para ganhar a Copa. Não! Elas representam a libertação da mulher brasileira em uma sociedade patriarcal opressora. Elas também podem jogar futebol como os homens, trata-se de uma conquista de espaço. A tarefa de ganhar a Copa já é algo muito desafiador. Quando se agrega a isso a missão de libertar a mulher brasileira, talvez tenha sido um pouco demais para o psicológico das atletas. Claro, a seleção masculina também carrega uma missão, a de representar o Brasil no esporte mais popular do país, o que é uma baita responsabilidade, e que tem pesado nas últimas Copas. Mas a responsabilidade das mulheres é ainda mais transcedental, e talvez seja pedir demais que não tremam.
O cronista Robson Morelli escreveu em sua coluna no Estadão, antes de começar a Copa, um artigo em que dizia que o Brasil era uma potência média no futebol feminino, que tem alguma esperança, mas estava longe de estar entre as favoritas. Foi o único que vi colocar a coisa dessa forma nua e crua. Qualquer esporte no Brasil precisa de vencedores para se popularizar. Foi assim com o automobilismo na era Piquet/Senna, com o o tênis na era Guga e com o vôlei na era das medalhas de ouro. O futebol feminino, se realmente quiser ganhar espaço, precisará dar um jeito de chegar favorita a uma Copa do Mundo, como acontece com a seleção masculina. Caso contrário, continuará a ser tão somente uma oportunidade para exercer o feminismo combativo.