Quando os limites da civilização deixam de existir

Estive em Israel em 2015. Viajando pela estrada que liga Jerusalém ao sul do país, e atravessa a Cisjordânia beirando o Mar Morto, parei em um posto de gasolina para abastecer. Atendeu-nos um simpático funcionário. Palestino.

Foi daqueles momentos Torre de Babel, em que mesmo o inglês do nosso interlocutor sendo quase inexistente, conseguimos de alguma forma nos comunicar. Disse que éramos do Brasil, e ele ficou muito contente, citando “Neymar”. A conversa enveredou para a situação da região, e ele disse em seu inglês sofrível: “sou palestino, vivo em Israel, só quero trabalhar em paz”.

Por outro lado, por causa de uma interrupção na estrada, tivemos que dar meia volta e seguir por uma outra estrada que atravessava a Cisjordânia, só que do outro lado de Jerusalém. Era janeiro, havia neve, e, de repente, passando por Belém, recebemos uma enorme bola de neve na porta do nosso carro, que tinha placa de Israel. Era um palestino protestando.

Enfim, os palestinos (e, de maneira geral, os árabes) que moram em Israel ou nos territórios ocupados têm posições distintas a respeito da relação com Israel. Todas essas posições são justas, a depender do ponto de vista.

O que não tem a mínima justificativa é o que aconteceu hoje em Israel. Tomei um Engov e passeei por vários perfis no Twitter defendendo as ações do Hamas, como uma reação justa a supostas violações de direitos humanos por parte de Israel. Como se soldados israelenses sequestrassem civis, arrastassem pessoas vivas pelas ruas, violassem cadáveres e assassinassem civis em pontos de ônibus. Quem defende esse tipo de coisa deve ter um sério desvio de caráter.

Fico com um tuíte de resposta a um desses perfis celebrando o ataque do Hamas. Trata-se de uma pessoa simpatizante da causa da Palestina, e vê-se que pisa em ovos para não parecer simpático a Israel. Mas é também uma pessoa que avalia a situação com puro bom senso: a ação extrapolou qualquer limite civilizacional, e o tiro vai sair pela culatra.

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