Atualizei estudo que publiquei há 8 dias. Os números não mudaram muito desde então.
Só relembrando: este gráfico mostra a relação entre total de casos e total de testes em cada país (fonte: worldometer), para países com mais de 5 mil casos confirmados.
A média desses países é de 11 casos confirmados para cada 100 testes feitos. Mas há discrepâncias imensas. Por exemplo, na Espanha, são 47 casos confirmados para cada 100 testes. Já na Coreia, são apenas 2, enquanto na Noruega são 5. O que pode explicar tamanha diferença?
Entendo que sejam duas coisas: o número de contaminados e a aleatoriedade da amostra. Na Espanha e França, onde essa relação é alta, deve haver mesmo mais gente contaminada, e devem estar testando mais as pessoas doentes. Já onde a relação é baixa, estão testando todos, doentes e não doentes, além de haver menos pessoas contaminadas.
Esta aleatoriedade é até mais importante do que o número em si de testes. Na Coreia, testaram 10 mil pessoas para cada milhão de habitantes. Na Itália, foram 15 mil. Mas o índice de contaminação na Itália é de 16% do número total de testes, contra 2% da Coreia. A Itália está testando mais simplesmente porque tem mais doentes, não é completamente aleatório.
Obviamente, quanto mais testes, mais tende a ser aleatório. Vamos pegar um caso extremo, a Islândia (que não está no gráfico). Neste pequeno país, foram testados nada menos que 103 mil pessoas para cada milhão de habitantes, ou mais de 10% da população! O número de contaminados é de 5 mil por milhão, ou 5% da amostra. Com uma amostra desse tamanho, já dá para tirar uma conclusão estatística robusta: 5% da população foi contaminada. Luxemburgo é outro exemplo: eles testaram quase 5% da população, e 11% está contaminada. Ou seja, com este tamanho de amostra, é provável que este número de contaminados se aproxime da realidade do país.
Outra comparação interessante é entre a Suécia e os outros países nórdicos. Na Suécia, até o momento, foram 5 mil testes/milhão, sendo que 19% deu positivo. Na Noruega foram 23 mil, na Dinamarca foram 12 mil e na Finlândia foram 8 mil testes por milhão, com proporção de contaminados de 5%, 9% e 7% respectivamente. Ou seja, fica claro que a Suécia escolheu outro caminho em relação aos seus vizinhos.
E no Brasil? Até agora, testamos míseros 300 para cada milhão, e 33% (100 para cada milhão) deram positivo para o Covid-19. Ou seja, estamos testando somente os doentes (ou muito doentes). A triste realidade é que não temos a mínima ideia do que está acontecendo.