Fazia tempo que não pesquisava sobre a Covid. Talvez porque tenha se tornado um assunto batido, sem muita novidade. Fui olhar o site da Fiocruz, que faz o monitoramento da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no país. Gosto especialmente deste site porque saímos daquela discussão sobre “é Covid, não é Covid”. Aqui, a estatística é sobre SRAG, que pode ser Covid ou não. Como, ao que consta, não há outra doença respiratória grave por aí, grande parte dessa estatística deve ser Covid.
Pois bem. Comparei os números de 2009, ano da H1N1 e de 2020. 2009 havia sido o pior ano de SRAG até agora. Então, serve como parâmetro de um “ano ruim”. Duas coisas me chamaram especialmente a atenção:
1) O número de óbitos bateu o pico de 3,5/semana/100 mil habitantes, e ficou pelo menos 10 semanas na faixa de 2,5/semana/100 mil. Em 2009, o pico foi de meros 0,14/semana/100 mil, e caiu rapidamente.
2) Isso aconteceu com um número de casos não tão maior do que 2009: naquele ano, o pico foi de 6 casos/semana/100 mil, ao passo que, em 2020, foi de 10,5 casos/semana/100 mil. Podemos observar, também, que há um platô de casos em 2020, entre 9 e 10 casos/semana/100 mil que durou cerca de 15 semanas, coisa que não aconteceu com a SRAG em 2009, que atingiu um pico e logo caiu.
Observando estes dois pontos em conjunto, podemos concluir que:
1) A letalidade da SRAG em 2020 é muitas vezes maior que a letalidade em 2009. Tivemos taxa de óbitos cerca de 20 vezes maior em 2020 comparado com 2019, com um número de casos apenas 1,5 vez maior.
2) O surto de SRAG de 2020 é de natureza completamente diferente do surto de 2009: enquanto em 2009 o surto atingiu um pico e caiu rapidamente sem grandes medidas de isolamento social, o pico de 2020 persistiu durante muitas semanas, MESMO COM MEDIDAS DE ISOLAMENTO SOCIAL. Fico imaginando o que teria acontecido sem essas medidas.
Como eu disse, fazia tempo que não dava uma olhada nos números da SRAG. Olhando em retrospecto, estes números levam-me a concluir que a coisa é bem mais grave do que eu imaginava no início, quando fiz as primeiras análises com base nesses gráficos. A análise definitiva da catástrofe somente poderá ser feita quando tudo estiver terminado, usando estatísticas de causa mortis. Isso deve levar pelo menos mais um ano. De qualquer forma, parece que não é só uma “gripezinha”.