O reitor da Unicamp foi entrevistado pelo Valor. É contra a cobrança de mensalidades nas universidades públicas, e dá como exemplo o MIT. Segundo o reitor, apenas 10% das receitas vêm das mensalidades. O restante seria “dinheiro público”.
De fato, o reitor da Unicamp está correto em relação aos 10%. O problema são os outros 90%, que têm sua origem em outras fontes. Não são “dinheiro público”
A maior fonte de receita (27%) é o Lincoln Laboratory, que presta serviços de pesquisa para empresas e o governo, e é remunerada por isso. É conhecida a ojeriza das nossas universidades públicas, com poucas e honrosas exceções, de se “subordinarem ao interesse do capital”. Faça uma enquete no próximo evento da SBPC sobre o assunto, e veja quantos professores topam fazer pesquisas remuneradas para empresas.
A segunda maior fonte (23%) são os retornos dos investimentos. O MIT conta com um endowment de aproximadamente US$17 bilhões. A receita de US$830 milhões representa um rendimento de 5% desse investimento, que é usado para bancar a universidade.
– Ah, mas aqui a elite não está disposta a doar para a universidade!
Verdade. Nem tampouco os americanos estariam dispostos a doar se as regras de governança fossem as mesmas da universidade pública brasileira. No MIT existe um conselho, chamado MIT Corporation, formado por 73 membros, reconhecidos como líderes em seus campos de atuação (iniciativa privada, serviço público, educação). Esta conselho é o responsável por cobrar resultados do braço executivo, que dirige a universidade. Pergunta: a universidade pública brasileira estaria disposta a se submeter a um conselho formado por pessoas de fora da universidade, incluindo pesos pesados do PIB nacional?
Enfim, o reitor da Unicamp só mostra o quão distante estamos de uma universidade capaz de gerar Prêmios Nobel (o MIT tem 90 entre os seus professores).
PS.: na mesma entrevista, o reitor da Unicamp também disse que é falsa a ideia de que a universidade seja um celeiro da esquerda. Mas este é um assunto para outro post.