Com a queda do Muro de Berlim (já lá se vão 30 anos!), sumiram do mapa (com a exceção dos lunáticos de sempre) os que defendiam o socialismo como uma alternativa viável ao capitalismo.
Mas a academia é pródiga em criar “soluções” para “consertar” o capitalismo. A ideia mais nova na praça é a dos “leilões permanentes”.
O plano seria mais ou menos o seguinte: todas as propriedades precisariam necessariamente ter um “preço de venda” associado. O proprietário pagaria um imposto sobre este preço de venda, de modo que haveria um incentivo para que este preço não fosse demasiadamente alto. Assim, qualquer um que quisesse comprar aquela propriedade, poderia fazê-lo por aquele preço. Isto, em tese, aumentaria o giro da propriedade na economia, prevenindo a formação de monopólios e diminuindo as “desigualdades” (efeito mágico que logo chama a atenção dos militantes de sempre). Todos os bens privados passariam a ser, na prática, públicos, através de um mecanismo que é um dos motores do capitalismo: os leilões.
Tentei imaginar a coisa. Eu tenho um apartamento. Este meu apartamento, que comprei com anos de poupança do meu trabalho, deveria ter um preço associado. Como eu não quero vendê-lo, colocaria um preço não convidativo, pagando o respectivo imposto. O efeito líquido, no limite em que ninguém quisesse vender suas propriedades, seria o aumento da arrecadação de impostos. Até aqui, trata-se apenas de mais uma forma de tungar o cidadão.
Mas digamos que eu perca o emprego e não consiga mais pagar o imposto sobre a propriedade. Serei obrigado a baixar o preço para deixar de pagar o imposto, deixando de ter uma das poucas garantias de bem-estar durante o período de desemprego.
– Ah, mas o favelado ou o sujeito que mora de aluguel já não têm essa garantia.
Você pode ter certeza de que quem vai comprar o meu imóvel por esse sistema não será o favelado. O comprador será alguém capitalizado, só esperando o momento de dar o bote. O autor do livro diz que se inspirou nas desigualdades do Rio para parir suas ideias. Pois bem, não consigo pensar em nada mais concentrador de renda do que esse sistema: quem já tem capital claramente tem vantagem sobre quem não tem, se todas as propriedades devem ser vendidas compulsoriamente. Por um motivo simples: quem já tem capital, pode pagar impostos mais altos por mais tempo. Claro que a coisa mudaria de figura se todo o capital fosse redistribuído a zero de jogo. Mas aí voltamos ao bom, velho e utópico comunismo.
O problema comum a todas essas ideias “mágicas” para consertar o capitalismo ou a teoria econômica é que a prancheta não consegue mapear todas as consequências não intencionais das ações propostas. No caso, mapeei uma, mas certamente existem muitas outras.
Confesso que não li o livro ainda. Procurarei fazê-lo, porque posso estar sendo injusto e não ter entendido a ideia. Não dá para julgar alguém por uma reportagem de jornal. Depois de ler, volto aqui e comento.