(Antes de começar este post, quero deixar claro que não tenho nada contra os funcionários da Ford, e me solidarizo com eles e suas famílias nesta hora difícil. O que vai a seguir é apenas uma tentativa de explicar como funciona o capitalismo).
Este assunto do fechamento da fábrica da Ford é fascinante. Quem leu Atlas Shrugged, de Ayn Rand, não pode deixar de lembrar do livro cada vez que lê sobre esse assunto.
A Ford é uma empresa organizada para produzir e vender carros. Para isso, precisa investir pesado em máquinas e conseguir convencer os consumidores potenciais a pagar um preço pelos seus produtos que: 1) pague os salários 2) pague os impostos e 3) remunere o capital do acionista pelo risco do empreendimento.
Pois bem: uma alternativa é eliminar o empresário da jogada. Desta forma, o capital não precisaria ser remunerado, eliminando, assim, um “parasita” do sistema.
Como se faz para eliminar o empresário? “Democratizando” o capital. Isso já seria possível hoje: bastaria que os funcionários da Ford se cotizassem e comprassem a fábrica da Ford. Obviamente, trata-se de uma possibilidade apenas teórica, dado que os funcionários não possuem o capital para isso.
Mas digamos, apenas para forçar o argumento, que um governo autoritário expropriasse a fábrica da Ford e concedesse a fábrica para os funcionários. Tudo certo? Não, aí é que se iniciariam os problemas. Hoje, a Ford tem 80% de capacidade ociosa. Como os funcionários fariam para pagar os seus salários se a fábrica gera prejuízo? De onde sairia o dinheiro?
É exatamente por isso que, nos sistemas comunistas, os meios de produção pertencem ao Estado, não aos trabalhadores. Assim, se o empreendimento der prejuízo, o Estado banca o salário dos trabalhadores no lugar do empresário. Não há como os meios de produção pertencerem ao proletariado, como promete o comunismo no final do arco-íris. Isso somente seria possível se os empreendimentos não dessem prejuízo nunca. Ou seja, se o investimento em produção de bens e serviços não corresse risco.
O Estado comunista procura, de fato, eliminar o risco, planejando todo o consumo dos indivíduos. Retirando o poder de escolha das pessoas, elimina-se o risco dos empreendimentos. Mas isso só é possível sob um Estado totalitário. Ou seja, o Estado continua sendo necessário.
Ao contrário do empresário, o Estado comunista não fecha fábricas que dão prejuízo. Mantém empreendimentos-zumbi, que vão minando a produtividade da economia. No final, o sistema sucumbe sob o peso de um capital humano e físico ocioso, empregado na produção de bens que ninguém quer comprar. É mais ou menos o que aconteceu no colapso da União Soviética. E é mais ou menos o que acontece quando o governo incentiva setores “escolhidos”, ao invés de incentivar horizontalmente a economia e deixar o consumidor decidir o que quer ou não comprar.
Com todo respeito ao drama dos funcionários da Ford, o fato é que manter eternamente aberta uma fábrica que dá prejuízo não faz parte das regras do jogo. O acionista precisa investir o seu capital em meios de produção que sejam mais produtivos. E essa produtividade é medida pelo lucro, que é um sinal de que o que está sendo produzido é útil e desejado pelos consumidores.
PS.: como nota humorística final, a inefável presidente do PT, Gleisi Hoffmann vai pedir que Bolsonaro converse sobre a Ford com Trump. Fico imaginando o papo com o presidente “America First” sobre uma empresa americana manter uma fábrica com prejuízo no Brasil para manter o emprego de brasileiros. Essa Gleisi é uma graça.