De vez em quando, até Eugênio Bucci escreve coisas interessantes. É o caso desse artigo.
Segundo o professor da ECA, a única chance das esquerdas no Brasil é libertarem-se do seu passado, jogando ao mar os dirigentes que cometeram crimes, em uma autocritica pública. Escrevi mais ou menos a mesma coisa há alguns dias, quando comparei os petistas aos escravos do faraó, que entram na tumba com o seu chefe para morrerem juntos.
Só tem um probleminha com a ideia do artigo: é desconsiderar a natureza do PT e de seus satélites. O culto à personalidade e o terror da nomenklatura fazem parte constitutiva de partidos desse tipo.
Quem assistiu A Morte de Stálin sabe do que estou falando. Apesar do tom burlesco e farsesco, o filme retrata muito bem a atmosfera da Rússia stalinista. E Krushev somente teve peito para fazer uma critica aos anos de Stálin quando estava, ele próprio, bem aboletado no poder.
É assim que funciona. Não existe isso de “autocritica”. Os dirigentes do partido sempre estão certos e dizer o contrário é um crime contra o partido. Criam-se todas as narrativas necessárias para manter o líder e a nomenklatura em seus devidos lugares.
Em partidos normais da democracia, quando um líder é pego com batom na cueca, cai imediatamente no ostracismo, por mais que seus colegas de partido tentem disfarçar. Aécio Neves é o caso clássico. Alguém imagina “vigílias” na frente da prisão de Aécio? Pois então.
Bucci sugere que o “déficit democrático” do PT seria resolvido com uma autocritica pública, jogando seus dirigentes ao mar e reciclando suas lideranças. Seria verdade se fosse possível. Mas o caráter stalinista do partido já ficou mais do que comprovado. Outro líder somente surgirá quando o atual se for. E o próximo líder sim, fará a “autocritica” do partido, mas somente para preservar o próprio poder. Essa é a lógica.
Bucci está pedindo que o PT mude de natureza, que se transforme em uma espécie de PSDB sem tipos como o Doria. Não vai acontecer. O escorpião tem sua própria natureza, nasceu com ela, vai morrer com ela.