Em 1980, ano da implementação da política de filho único na China, a taxa de fertilidade no país era de 2,6 filhos por mulher. Em 2016, quando o Partido Comunista Chinês permitiu que as famílias do país pudessem ter 2 filhos, a taxa de fertilidade havia caído para 1,7 filhos por mulher. Sucesso da política de filho único? Vejamos.
Em 1980, a taxa de fertilidade na Coreia era de 2,8 filhos por mulher e, no Brasil, era de 4,0. Em 2016, as taxas de fertilidade nesses dois países haviam caído para, respectivamente, 1,2 e 1,8 filhos por mulher. Ou seja, sem absolutamente nenhum programa estatal de controle da natalidade, a não ser, talvez, campanhas educativas e culturais, Coreia e Brasil apresentaram quedas nas taxas de natalidade em 35 anos superiores aos obtidos pela China.
Essa não é uma característica apenas de Brasil e Coreia. Todos os países de renda média apresentaram exatamente a mesma tendência. A urbanização e a necessidade de mais investimentos em educação fizeram o serviço, não foi necessária uma política coercitiva do Estado.
Agora, o Politiburo chinês vai “permitir” 3 filhos por família. Por que não liberar geral? Vamos combinar que decidir-se por ter 4 filhos ou mais será suficientemente raro para ameaçar qualquer política demográfica. Mas o viés autoritário é mais forte, então precisa continuar havendo alguma intromissão na vida privada das pessoas.
Bem, essa permissão, é fácil prever, não vai resolver nada. A China, como os demais países de renda média, tende a ter uma taxa de fertilidade decrescente. Como diz o velho ditado, você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água. Já estou vendo o momento em que o governo chinês vai começar a OBRIGAR as famílias a terem dois filhos.
Em resumo: o governo chinês lançou mão de uma política incrivelmente autoritária, que mexeu com a mais íntima decisão na vida de um casal, à toa. Se foi inócuo para minorar o problema demográfico, teve efeitos deletérios sobre a vida das famílias chinesas. Sobre isso, recomendo o documentário da Amazon Prime, One Child Nation.