Jair Bolsonaro acaba de fazer uma “live” da cama do hospital.
Foram 20 minutos aproximadamente. 5 minutos dedicados a agradecimentos. Os outros 15, ao assunto principal da “live”.
E qual foi este assunto principal? O que você falaria se fosse o candidato líder das pesquisas, e virtualmente classificado para o 2o turno? Qual seria o seu posicionamento tático, desde a cama de um hospital, recuperando-se de um atentado?
Fiz este exercício antes de assistir. O que eu falaria neste momento único? Acho que adotaria um tom mais emotivo, de união de todos os brasileiros em torno dos desafios à frente. Procuraria falar como um estadista, pronto para assumir a Presidência. Começaria, enfim, a jogar o jogo do 2o turno.
Mas Bolsonaro resolveu usar os 15 minutos mais importantes de sua campanha no 1o turno denunciando a possibilidade de fraude nas eleições, em função das alegadas vulnerabilidades das urnas eletrônicas.
Se ele tomou essa decisão, é porque ele acha esse assunto o mais importante de sua campanha neste momento. Ele avalia que, em eleições limpas, ele já ganhou. Por isso, sua campanha, agora, é apenas para que as eleições sejam limpas.
No entanto, as urnas eletrônicas são o que são. Uma vez que não haverá o voto impresso, o que, em tese, permitiria uma auditoria independente, não existe campanha que as “limpe” mais do que elas são limpas hoje. Portanto, estes 15 minutos só serviram, de fato, para contestar a legitimidade das eleições.
É o equivalente ao que o PT vem fazendo, dizendo que “eleição, sem Lula, é fraude”.
Qualquer que seja o resultado, está se armando uma grave crise institucional. Os mais pessimistas dirão que a crise já está instalada, e estamos anestesiados pela “festa” eleitoral. Passada a festa, virá a ressaca da ilegitimidade do próximo eleito.
A tempestade está se formando, não se dissipando.